sábado, 31 de outubro de 2009

irmão mais velho

O Joaquim? O pai foi dar uma volta com ele. Oh não, ele vai perdê-lo. Ou dá-lo a alguém. Claro que não, o pai não o vai perder nem dar. Vai, vai, que ele perde tudo, também vai perder o meu irmão.

Oh que coisinha tão bonita. Coisinha? Não é uma coisinha, é uma pessoa. Ainda pequena e assim muito tonta mas é uma pessoa, não é coisa nenhuma.

Este miúdo não abre a boca para comer. Canta. Tens que cantar, a mãe canta o come a papa e o lobo a uivar aú e ele come tudo até ao fim.

Não, mãe, não podes gritar com ele senão ele ainda grita mais. Tens que falar assim baixinho e suavezinho para ele não perceber, assim bebé chorão, bebé chato, bebé gritão, que ele põe-se a rir e pára de gritar.

É bonito vê-lo desenciumado do irmão.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

a pouco mais de meio deste mês




E no Jardim Botânico Tropical, a que chamamos sempre Jardim do Ultramar, num destes domingos.

a meio deste mês


Enquanto não prossigo a preto e branco retomo-nos em emissão a cores. Na Inside, num destes sábados.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

reticências ou ponto final?

As palavras desoportunam-se-me nas alturas mais atropeladas. Enquanto ajudo o maior a esponjar as costas ao mesmo tempo que desafino o A barata diz que tem sapatinhos de veludo para o menor se distrair das vontades de colos. Enquanto colhero sopa de alface com frango e banana desfeita ao meio dia para uma boca que gosta mais de rir do que de comer Uma colher para o cão, ão, ão, ão, uma colher para o pato, quá, quá, quá. Enquanto apresso o carrinho azul para o portão da escola às quinze e trinta. Enquanto ajudo nos trabalhos de casa Então agora junta lá o pa com o pão para veres o que é que está aí escrito ao mesmo tempo que embalo uma sesta reticente. As palavras repentinam-se-me assim, simpáticas, prestáveis, sorridentes, ordeiradas em frases direitinhas e sentidas e Ah, era mesmo isto que eu queria escrever, penso, no meio de sopas, caminhadas, ralhos, cantorias, panos do pó, mamadas, Tens que afiar esses lápis e miminhos. À noite, um a dormir e outro a dormitar, ligo-me, escrevo a primeira frase que me ficou nas memórias e peço às palavras para me terminarem o texto. Mas as brincalhonas apagam-se nalgum recanto escuro e esconso e, por mais que lhes peça com muitos se faz favor, não voltam. Às vezes ouço-as rirem-me, escarninhas, os pedidos. Fico por aqui, arreliada com o pó, o cotão e as teias de aranha acumuladas nestes meses, com pensamentos suicidas de nos deletar, que os blogues exigem um dia-a-dia que eu, por mais que queira, parece que não nos consigo ritmar. Depois desligo-me e vou dormir. Já sei que amanhã de manhã, enquanto trocar a fralda do pequeno ou ensanduichar a manteiga e o queijo do grande, elas hão-de surgir arrumadas em frases escorreitas só para me aborrecerem. Devia aproveitar para lhes castigar as ausências mal-educadas com duas valentes palmadas.

Não sei se comece a limpar o pó se nos remate de vez.