desorganizamo-nos
"O que o bebé faz é trabalhar, trabalhar... Desorganiza-se, digamos assim, quando começa a olhar para um cubo, quando começa a pôr-se de pé, quando dá os primeiros passos... E depois estabiliza, estabiliza, reorganiza-se, reorganiza-se... E depois envolve-se em tarefas que são proporcionadas pelo seu sistema nervoso central, para novas descobertas, para novas conquistas, para novas etapas... O subir escadas, o descer escadas - tudo isso são grandes factores de desorganização. Para lhe dar um exemplo: o primeiro grande factor de desorganização são as cólicas. Quem é que não conhece as cólicas do bebé? E ainda perguntam os pais, dê-me remédio para as cólicas, dê-me gotas... E quem não tem este modelo dos "Touch Points" na cabeça, que a um processo de desorganização se segue obrigatoriamente uma estabilização, quem não entende isto é tentado a dar umas gotas milagrosas para resolver as cólicas de cada bebé."
Pediatra João Carlos Gomes-Pedro, um bocadinho de um bocadinho de uma entrevista.
O meu filho, que corre em vez de andar, que grita em vez de falar, que mexe no que está à mão e fora dela, que me desorienta as arrumações e as limpezas e os cozinhados, é organizado e tem o quarto mais arrumado do que eu consigo ter o resto da casa. Sabe o sítio de todos os brinquedos, arruma-os por iniciativa dele antes de ir dormir e vigia-me ferozmente enquanto limpo o pó para confirmar que não os destroco de caixa ou de prateleira. Muitas vezes há carrinhos e bolas espalhados e esquecidos na sala e cozinha mas no quarto dele estão todos nos sítios certos. Quando chegam coisas novas e é preciso reorganizar os espaços têm que se usar lógicas, explicações e paciências senão há birras e irritações. Partindo do tal pressuposto que já ouvi muita gente defender que a organização exterior reflecte organização interior, fico satisfeita pelo miúdo e pela suposta arrumação de ideias e pensamentos na cabecinha.
Ora o meu filho, tal como não gosta que eu lhe (des)organize o quarto, ainda detesta mais as (des)organizações do crescimento. Argumenta com a pequenez, irredutível, tal como noutras situações argumenta com o já ser grande, também irredutível. Responde-me que ainda é pequenino para se calçar sózinho, para se esponjar no banho, para comer uma refeição inteira com a colher dele, para gostar de sopa, para calçar os sapatos. E a seguir responde-me que já é quase-quase-rapaz para mexer em facas, para não gostar da roupa, para me ajudar a cozinhar, para não se calar quando lho peço, para não dormir à tarde, para me pôr de castigo sózinha no quarto... E eu às vezes fico furiosa, mesmo furiosa, e apetece-me fazer uma birra e teimosar que ele tem quase quatro anos, mais do que idade para se desenrascar e não ser tão bebézão, e dizer disparates como Se tivesses dois ou três irmãos isto não era assim e se e se... Mas eu já não tenho idade para birras e teimosias. Deito água nas fervuras e vou insisitindo com calma e jeito e distraindo e mimando. E resulta. Devagar, mas resulta. Mamã, eu já sei lavá os dentes sózinho. Eu fecho a toneia. Eu faço o sumo de laianja. Eu arrumo os sapatos. Eu ponho o copo na máquina. Eu ajudo-te, mamã. Eu quéo quescer e ser gânde.
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