sábado, 13 de janeiro de 2007

papas de arroz com noz

Pesadelos a sério, com choro pânico e gritos aflitos, só dois. No primeiro foi uma abelha que nos interrompeu os sonos. Quando lá cheguei, estremunhada pela novidade, disse-me, entaramelado de enormes lágrimas, que lhe tinha picado com muita força e que lhe tinha doído muito. Na noite seguinte voltou. Na terceira fartou-se e, muito prático e valente, deu-lhe uma palmada e ela fugiu com medo paia a casinha dela e acabou com aquilo sem mais delongas. Passadas umas noites chegou a ovelha e mordeu-lhe uma orelha. E aí eu reconheci logo o ritmo do "lobo feroz farto de papas de arroz com noz"...

Comprei-lho pelos castanhos tão bonitos, pelos desenhos e pela cadência lengalengada que se vai repetindo, crescendo e musicando a estória ("sou o Loboferoz, farto de cabras, de burros, de ovelhas, de vacas, e de papas de arroz com noz"). Leio-os sempre antes de os comprar, não gosto de surpresas desagradáveis à hora de os contar e este não me pareceu excessivamente violento. Enganei-me. Depois de o ouvir calado várias vezes começaram as dúvidas Ete lobo é bonzinho ou mau, mãe? A vaca é má? A ovelha é má, pois é? Ela modeu! e aí tive que me socorrer da comparação para lhe explicar instintos e naturezas e defesas, não, não são maus, estão a defender-se, o lobo também não é mau, é a natureza deles. Num mundo de opostos certos isto não encaixa muito bem. Trocou os bons versus maus pelos fracos versus fortes mas as dúvidas persistem. Sabe o livro de cor mas nunca mais o quis ouvir, não vão a cabra, o burro, a vaca ou o porco irromper-lhe pelos sonhos adentro...
O Loboferoz, Patacrúa & Chené, OQO Editora

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