sábado, 24 de fevereiro de 2007

aeromenino


Oh mãe, eu quero voar. Não lhe dei muita importância. Com a quantidade de tráfego aéreo e terrestre de brincar que nos entope todos os dias os corredores-estrada e os céus cá de casa, pressupus-lhe vontade de andar num avião a sério. Claro, filho, qualquer dia vamos todos andar de avião. Não, mãe, eu quero mesmo voar. Voar. Voar assim como os pássaos. Os braços abertos, a vozinha muito decidida e explicada. Ah, isso não podes, meu amor, não tens asas. E é poquê? Então, as pessoas têm braços, os pássaros asas, outros animais pa... E é poquê as pessoas não têm asas? Malvados porquês, passamos os dias nisto, dissecações verbais até à exaustão (minha) e risos (eu góto muito de peguntar poquês) dele. Porque sim e porque então e porque pois e porque talvez, lá deu o assunto por encerrado com um tou muito tite, eu gotava mesmo de conseguir voar. Acalmei-lhe os aerodesejos com o mesmo sapo das dúvidas anteriores, mas agora também ele muito carente de asas. Esqueceu-se rapidamente das impossibilidades aéreas com as óptimas possibilidades mais terrenas - fazer bolos como o porco, ler como a lebre e dar grandes saltos como o sapo...


Sapo é Sapo, Max Velthuijs, Editora Caminho

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