as pequenas memórias do pai
Enumerou-me o fogo na casa da tia Fernanda, o carro da mãe cheio de amigas pelas ruas de Lisboa a gritarem liberdades eufóricas no vinte e cinco de Abril, os dias e as asneiras na casa do tio, as galinhas pastadas no baldio atrás do terceiro andar, os telefonemas fictícios e irritantes para os taxistas do largo lá de baixo. Essas já eu sei, respondi-lhe, e insisti nas primeiras. As mais recuadas, as antes dessas, as não contadas por outros. Acha que se lembra de enfiar (propositadamente) uma agulha no joelho (três? quatro anos?), ganhando assim uma hospitalização, choro e atenção da mãe e uma cicatriz que ainda lá está e de, por não reparar, dar a mão a uns estranhos no meio dos carrocéis da Feira Popular. Uma de dor e uma de susto, portanto.
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