segunda-feira, 19 de março de 2007

verdadias


Cresci a descreditar as festas exigidas pelos calendários. Dias do pai, da mãe, páscoas e afins eram falácias, dias isolados para fingir prendas e carinhos e alegrias não sentidos nos todos. Hipócridias, chamava-lhes eu, nas alturas em que me vestia de preto e lia Kafka. A vida é sempre, não é esporádica, opinava e certezava. Sim, que eu tinha muitas opiniões e certezas sobre tudo e todos. Quando o meu amor e o meu filho me descontextualizaram das ausências em que nasci, fiquei grata por tantos números engrossados a outra cor no meio das semanas. Relembram-me que ter a casa desarrumada, torres de roupa para passar a ferro, não-tempo para ir cortar o cabelo e não-sossego para pensar são picuinhicezinhas comparadas com as presenças em que vivo agora. E que temos que as celebrar, nestes e em todos os outros dias.
Criamos rituais nossos. Fazemo-nos família.

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