sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

boa almofada

Tem maus comeres mas bons dormires, valha-nos isso. Não foi sempre assim. Lembro-me dos primeiros meses de sonos muito curtos e de choros muito constantes e muito altos. Lembro-me de começar a andar e de acordar a meio da noite, sempre às duas e picos, a saltar e a andar na cama, fresco e ansioso para pôr em prática a todas as horas a recém-conquistada proeza. E lembro-me dos poucos meses de infectário e das noites inteirinhas em branco à volta de tosses e ranhos e diarreias e vómitos e pânicos. E lembro-me vagamente que na altura achei muito difícil. Muito, muito, mesmo muito. Lembro-me de ter sempre sono e de só pensar em dormir e de achar que nunca mais na vida voltava a ter uma noite inteira de sonhos sossegados. Eu, que até nem sou bicho de muitas horas de sono, só queria dormir. Mas a maternidade é como o parto, acho eu, esquecem-se as dores, as insónias, as birras, os maus modos... Passam e parece que não tiveram grande importância, que não doeu assim tanto, que não custou assim tanto. Será por isso que dizem que as mulheres ficam mais desmemoriadas depois dos filhos?...
Excepções feitas, a regra é de dez a onze horas de sono seguidinho, com direito a adormecimentos sózinho e a acordares bem-dispostos. Terrores nocturnos, pesadelos, monstros, dragões, bichos ferozes, morcegos, fantasmas, aranhas? Durante o dia há muitos cá por casa. Saltam dos livros, das prateleiras e da imaginação, andam de carrinho, jogam às escondidas e pregam sustos, mordem e fazem sons guturais. À noite, cansados de tanta agitação, falta-lhes energia para atormentar os sonhos do filho e acordar os sonos dos pais. E nós agradecemos muito os serões sossegados, as horas de sono descansado e os sonhos felizes contados logo ao acordar.

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