quarta-feira, 8 de julho de 2009

jurassismos

Se houve coisa que nunca me atravessou as imaginações foi achar que um dia desconfundia sem dúvidas um sismossauro de um dilofossauro.

terça-feira, 7 de julho de 2009

baralha e volta a dar

E de repente, com os seis anos e os começares da primária já agendados, toda a gente me recomenda actividades. Actividades, as crianças nesta idade precisam de actividades para além da escola. Um desporto é o mais indicado. Natação é muito bom, diz a pediatra, estetoscópio a confirmar saudáveis as batidas aceleradas do coração sempre apressado. Um desporto de equipa, tem que ser de equipa. Karaté ou râguebi de preferência, é o mais indicado para estes meninos que gostam de sensações fortes e de embate, diz a doutora Paula, médica que não espreita para os ouvidos nem receita xaropes mas brinca pelo tapete com comboios e robôs. Ou ir para os escuteiros, fazem imensas coisas na natureza, têm muitos encontros e saídas até nos fins-de-semana. Ele para o ano vai precisar de ter uma actividade, diz a educadora. Um desporto, de preferência. Ou interagir com cavalos ou golfinhos. Ouvi dizer que é muito bom, acalma-os imenso. Não vai querer actividade nenhuma depois das quinze e trinta?, incredulizou-se a funcionária que me acolheu o envelope da inscrição no primeiro ano. Olhe que eles gostam muito e faz-lhes bem. Soam-me um uníssono tão afinado que chego a fantasiar segredamentos, telefonemas e conspirações.

Tento explicar. Natação parece-me bem. Saudável e tal. Mas não gosto nada de râguebi. Nem de karaté. Temo os pontapés e os encontrões, inquietam-me as fracturas e as nódoas negras. Os escuteiros têm os catolicismos que se desencontram com as descrenças cá de casa. E não quero que mo roubem aos sábados e domingos. Cavalos?!? Onde? E quanto? Golfinhos?!? Onde? E quanto?

Tento explicar. Quero que seja ele a escolher. É claro que não é assim tão simples e eu vou influenciá-lo, porque os pais preponderam nas inclinações dos filhos. Inevitavelmente. Mesmo sem querer. Mesmo com as afirmações Eu quero que seja ele a escolher uma coisa de que goste mesmo que eu não goste da coisa, eu sei que o influencio. Todos os dias. Com o que digo, com o que faço, com o que gosto, com o que oiço. Com os genes. Vai haver sempre ali um limite muito indefinido entre o que ele gosta por ele e o que ele gosta por mim.

Tento explicar. E o tempo. Depois há o tempo. Ah, o tempo. Tempo para brincar, para conversar, para plantar hortelã e coentros, para achar bichinhos-de-conta, para escorregar e baloiçar, para encaminhar a Doris, para escrever e numerar os trabalhos de casa, para ler livros, para ir à biblioteca, para teatralizar os gugus e dádás do irmão, para dizer Não sei o que fazer. Para sermos família. Eu quero-nos com tempo. Todas as tardes e não só ao sábado e domingo. Não me consigo ver a motorizá-lo. Carros, pressas, mochilas de mudas, cansaços, irritações.

Tento explicar. Há o que eu receio e não gosto. E há o que ele gosta. E há a escolha. E há a família. E há o tempo. Sobretudo o tempo.

Depois respiro fundo. E desisto de tentar explicar.

Simão, gostavas de fazer alguma coisa a seguir às aulas? Um desporto, tocar um instrumento,...? Talvez. Sim, natação. Ou ginástica. Ou aprender violoncelo... Mãe? Sim? E teatro? Há escolas de marionetas? Isso é que eu gostava mesmo, mesmo, mesmo de fazer. Marionetas.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

de cal e giz



Ao mesmo tempo que aumentam as horas em casa prosperam também os Não sei o que fazer... Numa espécie de preparação para o que vão ser estes meses de férias com um bebé pequenino que ainda não se convém muito espraiado nem ensolarado vou-lhe reinventando brincadeiras e entreténs. Hoje gizámos um casario numa das paredes do quadrado lá de fora.

sábado, 4 de julho de 2009

um livro ao sábado

Gosto de lhe contar as mesmas estórias que a minha avó Rita me contava sentada numa cadeirinha pequenina de empreita à porta de casa para me distrair dos desapetites da comida. Eu não, eu não vou, que tenho medo, disse o boi. Colher de sopa de cenoura. Era uma vez uma carochinha que andava a varrer o chão e encontrou uma moeda de cinco merréis. Gomo de laranja. Sape gato lambareiro tira a pata do açucareiro. Rodela de banana embrulhada no iogurte. Contava-mos sem livro, voz corrida, prato numa mão, colher na outra. Lembro-me de todas. Agora reconto-as ao meu filho. Umas vezes sem livro, outras com. A imitar as vozes dos animais, os bateres à porta, os sons. Sem colheradas de comida a atrapalharem as palavras. Será que quando ele tiver os meus anos ainda se vai lembrar das estórias de menino?

O coelhinho branco, Xosé Ballesteros e Óscar Villán, Kalandraka

sexta-feira, 3 de julho de 2009

maus adormeceres

Ai, ai, ai, ai, ai... ralhei eu aos quase seis quilos de gente. Mau maria, ecoaram logo os outros vinte e poucos quilos de gente, lápis castanho suspenso do pelar a cabra cabrês, salto-te em cima e faço-te em três, nas costas do cartão dos corn flakes, uns decibéis de satisfação impossíveis de disfarçar ali nos ás do mau maria, que eu cá acho que não deve ser fácil ser o irmão mais velho de um bebé que sorri tanto ao mundo e a quem o mundo sorri tanto de volta. Não é comigo, pois não?, desenganou-se a medo, habituado a ganhar sempre nos ralhos. Não, não é contigo. Ai, ai, ai, ai, ai, retornei para a carinha chorosa, agora sem reticências. Que não pode ser, que só tem três meses, que tem que dormir, que não pode estar acordado as mesmas horas todas que os crescidos. Pois é, tens que dormir, irmão, corroborou o grande, lápis cor-de-rosa a orelhar o coelhinho, eu fui colher couves à horta, o mesmo regozijo nas sílabas, voltei a casa para fazer um caldo, irmão. Ele diz sempre assim, irmão. Quase nunca mano. Mãe, o irmão está a chorar. Olha, irmão, isto é um dinossauro. Irmão, ri para mim. Acho que o miúdo vai crescer convencido que se chama Irmão. Um bebé tão bonito, quase não chora e depois são estas indignações todas gritadas em fúria quando o tentamos adormecer. Que os três meses trouxeram-nos, misturados com as gargalhadas, os beicinhos, as conversas, as atenções a tudo e as noites e as sestas compridas, os adormeceres destemperados pelas desvontades de dormir. É só aconchegá-lo com a fraldinha Dorme, meu menino, a estrela d'alva... e começa o desassossego de braços e pernas e voz, todos juntos a birrarem teimosias e cansaços. Se queres estar acordado, estás, mas ficas aí na espreguiçadeira e caladinho que eu tenho que fazer o jantar, terminei, voz agastada pelos muitos minutos seguidos de colos gritados, que eu não fui à horta colher couves mas tenho que fazer um caldinho. Pois é, irmão, a mãe tem que fazer a sopa, corroboraram os seis anos de gente, lápis preto a arredondar dois olhos mais um sorriso e a riscar uma, duas, três, quatro patinhas da formiga rabiga, salto-te em cima, furo-te a barriga.

O miúdo fez um beicinho anunciador de mais gritaria. Ai, ai, ai, ai, ai, suspirei-me eu, cá vamos nós outra vez, que se isto ao colo já é difícil, na espreguiçadeira é que não vamos mesmo lá. Depois sorriu-se, timidamente, e ficou-se assim, quietinho, a ouvir a cabra cabressa, cabraz, cabracha, cabrenta, caprina, cabriso, teve um ataque de riso, do irmão e os quadrados de chuchu e abóbora e cenoura a mergulharem no tacho. Passado um bocadinho estava a dormir. Ainda a sorrir.

O meu filho pequenino é delicioso.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

sábado à tarde

No meio dos bichos. Gostamos muito de Sintra.

sábado de manhã




No meio dos brinquedos.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

mãe-polvo

Eu, que me queixava numerosamente de estar sempre a fazer duas coisas ao mesmo tempo, descobri que afinal consigo equilibrar num par de mãos três tarefas em simultâneo. Será que se parisse seis ou sete filhos me cresciam braços para os ajudar a todos nas horas confusas dos acordares e dos banhos e dos atacadores?