terça-feira, 31 de agosto de 2010

summertime 15

À sombra.

summertime 14

À tarde espraia bichos campestres perto das ondas.

summertime 13

De manhã lapisa bichos marinhos nos versos das A4s já desprestimosas.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

esperas

A mesma médica que há dezoito ou dezanove meses me prescrevia caminhadas para convencer a descer um bebé que insistia em alojar-se-me encostadinho ao coração desta vez recomendou-me descansos Porque os gémeos nascem quase sempre antes e o mais certo é nem chegarem a setembro. Isto acrescentado às muitas mães que afirmam não ter conseguido evitar o primeiro dia nas trinta e duas ou trinta e três ou trinta e quatro semanas, a uma barriga pouco crescida em quilos mas muito aumentada em centímetros e a uma ecografia que os mostrou com os mesmos pesos e comprimentos de um bebé que se encasulasse sózinho fez-me afirmar aos amigos Isto de certeza que não passa do meio de agosto. O que até me desconsolou um bocadinho, que os calores, luzes e energias do oito tornam-no o que mais desgosto dos doze e não sei se o fogo dos leões se me encaixava bem nas águas dos peixes. Por isso agora vou respondendo uns Não, ainda nada., espantados aos crescentes mails e telefonemas e mensagens, admirada com a ausência de contracções e de vontades de quererem nascer. Ontem entrei nas trinta e seis semanas e depois de passar tantos meses inquietada com prematuridades e incubadoras sinto-me cansada dos já quatro quilos e tal de gente, dos pés inchados, dos formigueiros nas mãos ao acordar, das dificuldades nas locomoções e nos pegares ao colo no meu (por enquanto único) bebé e acho que estes miúdos cá de dentro já podiam ir dando sinais de querer vir cá para fora...

domingo, 29 de agosto de 2010

família numerosa

O pai diz que se isto de ter que chamar quatro nomes se balburdiar desmedidamente numeramos os miúdos em crescente do maior para o menor: o um, o dois, o três e a quatro. Eu, que já desnomeio muitas vezes só este par, não me importo nada de ter filhalgarismos desde que isso me poupe tempos e confusões.

summertime 12

O pequeno conquista desvergonhadamente as construções deixadas por outros para os jantares das marés.

sábado, 28 de agosto de 2010

summertime 11

Uns dias depois de desencobrir que estava grávida do pequeno Joaquim o meu filho que na altura era único desencovou das areias das férias um coração que ainda guardo junto com os dois riscos cor-de-rosa da confirmação. Agora que estou quase a conhecer estes dois miúdos o meu filho que diz que já não se lembra de como era ser único esbarrou nas mesmas areias com mais um coração. Só pode ser um bom sinal.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

silent land

E depois, alinhavadas aos sonhos, chegaram-me as memórias dos silêncios da minha casa de menina. Que estava sempre limpa, arrumada, estática, vazia, silenciosa. Tão silenciosa. Não havia músicas nem cantos nem diálogos nem barulhos nem campainhas a anunciar visitas nem telefonemas com vozes de amigos nem alegrias. Acho que nem havia os irritantes zzzzzzs das moscas, que nem as moscas gostavam de voar numa morada tão triste e monótona. E lembrei-me que pensava Eu gostava era de ter muitos irmãos, Eu gostava era de ter uma família grande, Eu gostava era de ter a casa cheia de risos e barulhos e confusões e desarrumações. Parece que afinal o desejo já existia. Eu é que me tinha esquecido dele...

dreamland

As tranquilidades e os contentamentos demoraram a domiciliar-se. Depois da descoberta ainda levei umas (acho que muitas) semanas encalhada nas previsões das dificuldades e dos cansaços. Nesses primórdios, paralelos às desconsiderações e aos espantos, indignavam-me sobretudo os Ah, isso era mesmo o meu sonho, eu queria tanto ter gémeos! E assim um casalinho, que é tão bonito, para ficar logo despachada!, que só não me arregalavam quando se vozeavam da falta de vivência das ainda não mães.

Mas depois começou a acontecer-me esta coisa singular. Enquanto eu soçobrava em queixas e desânimos, ele e ela começaram a alojar-se-me nos sonhos. Eu, desacostumada de sonhar com os outros dois miúdos enquanto moravam na barriga, que pelo menos ao acordar nunca me lembrava de os sonhar, comecei a sonhar com estes. Muitas, muitas vezes. Tranquilos e contentes, sempre. Umas vezes menorzinhos, acabadinhos de nascer, ainda na sala de partos e já a sorrir, e as parteiras encantadas Eu nunca vi uma criança a sorrir assim que nasce, vão ser uns bebés muito felizes. Outras vezes maiorzinhos, a gatinhar, no carrinho, sentados à mesa a comer, a brincar no chão com os irmãos. E, ao acordar, depois de os ver, sinto-me sempre estranhamente acalmada. Sem receios. Satisfeita. Por isso, e uma vez que não posso deixar aqui para a posteridade que estes filhos em duplicado vêm preencher um acalento antigo (o que era bom, que eles depois liam isto e ficavam todos contentes, Ainda nós não éramos nada e já a mãe suspirava por nós., que com certeza deve ser óptimo uma pessoa sentir-se desejada ainda antes de existir), posso escrever que agora o que eu quero mesmo fazer, nestes próximos anos, é dar muito colo e mimos e beijinhos. Ver os primeiros passos, ouvir os primeiros balbucios e cheirá-los muitas vezes. Porque, e aqui o lugar-comum é mesmo verdade, eles crescem muito depressa. E depois logo tenho tempo para as outras coisas todas que planeio acontecer. E embora antes não fossem um apetite agora são muito bem-vindos.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

summertime 10

Sempre que as marés decrescem despendemos muitos passos e minutos a procurar achados.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

summertime 9

E com este peixe.

summertime 8

Quando os decibéis começam a atingir níveis nocivos ao normal funcionamento dos pensamentos sossego-os aos dois com estas minhocas.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

summertime 7

Às vezes já brincam os dois juntos. É pena é que seja sempre por tão pouco tempo e que termine invariavelmente com os gritos e choros de um e os Sai daqui. Oh mãe, ralha lá com ele. do outro.

parecenças

Na frutaria o grande pede Mãe, podes levar melancia? Uma grande, por favor. E melão? E daquelas meloas pequeninas? E pêssegos, vais levar pêssegos, não vais? E ameixas? E bananas da ilha da Sofia, que são tão boas? O pequeno diz Nham, nham, nham, nham. e pede Dá, dá, dá.

diferenças

Na peixaria o grande pergunta Como é que se chama este peixe, mãe? E este? Já viste os dentes deste? Olha, os caranguejos ainda se estão a mexer! Olha a boca do polvo mesmo ali no meio dos tentáculos. Posso mexer? O pequeno diz Nham, nham, nham, nham. e pede Dá, dá, dá.

No talho o grande pergunta Isto são coelhos? E onde é que está o rabinho? Aquilo ali são patas de galinha? E onde é que estão as penas delas? E aquelas galinhas tão pequeninas, são o quê? Como é que os senhores tiram a pele dos porcos e das vacas? Ah, aquilo é uma orelha de porco! Que gira! O pequeno diz Nham, nham, nham, nham. e pede Dá, dá, dá.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

summertime 6


Vendo bem as coisas eu devia era ter ficado sossegada que os receios do miúdo até me facilitavam a vida. Não saía da toalha. Os baldes, pás, moinhos, forminhas e peneiras voltavam imaculados. Ele não transportava nem um grãozinho de areia para casa. Mas não. Andámos, o miúdo crescido e eu, em tentativas e insistências. Olha a areia, tão gira. Anda, anda fazer um buraco com a pá. Olha a areia a passar pela peneira. Vá, faz tu. Não, não chora, não faz mal nenhum, é só areia. Muito bem, o Joaquim já consegue fazer um buraco! Viva! Palminhas! Agora... agora acabaram-se-me os sossegos. O miúdo corre pelo areal. O miúdo recolhe lixo e paus e pedrinhas e conchinhas que tenta comer. O miúdo enterra os brinquedos que só não ficam perdidos graças à vigilância feroz do irmão. O miúdo destrói castelos, montes, estradas e buracos. O miúdo come quilos de areia que lhe granulam os cocós do dia seguinte. E volta para casa com o cabelo e a cara e as dobrinhas tão croquetados que nem esponjados vigorosamente se desencardem. Pela minha parte aprendi a lição. Agora não me vou pôr com Olha a água tão linda, não chora, não faz mal nenhum, anda só mais um bocadinho, vamos ter com o mano ali mais dentro, tão bom. Não, não. Vou ficar muito caladinha, que as areias já me dão trabalhos que cheguem, e esperar que o miúdo resolva os medos dele sózinho.

summertime 5

Quando passamos da praia a caminho do parque de estacionamento o miúdo crescido obriga-nos sempre a parar para ver as osgas nos candeeiros já acesos a tentar jantar mosquitos e outros insectos.

domingo, 22 de agosto de 2010

eu gosto é do verão...

Se eu me pusesse a somar dias provavelmente já ultrapassava as três dezenas embora as nossas cores, só um pouco mais acastanhadas que no inverno, não o comprovem. É que chegamos sempre ao fim da tarde. Às cinco ou às seis, quando toda a gente já se debanda a caminho dos duches e jantares numa lenta, cansada e muitas vezes avermelhada procissão de sombrinhas, cadeiras, caixas térmicas, toalhas e sacos. Fazem-me cada vez mais confusão, os carregos, e a pouco tempo de crescermos para meia dúzia ainda consigo espartilhar toalhas, comidas, água, cremes, fraldas e outros mesmo essenciais numa única mochila. Deixam atrás povoações de castelos, montes e buracos e, o que ainda me baralha mais do que as cargas, beatas, latas, guardanapos, pacotes e mais uma infinidade de despojos de lanches e almoços quase sempre nutricionalmente muito desacertados. Escolhemos a clareira maior, que o toalha nossa encostada a toalha desconhecida nunca se nos encaixou nos feitios, o pai vai quase sempre correr, os miúdos brincam, eu brinco com eles ou finjo que leio ou distribuo bolachas e ralhos Simão não atires areia para os olhos do mano, Joaquim brinca com outra coisa que o mano estava primeiro com a escavadora, ou tento desinchar os pés na água gelada. Está sempre fria, a água, ou assim me tem parecido, neste verão quente que me anda a dificultar as locomoções e as boas disposições, e suspiro muitas vezes pelos mornos da praia fluvial dos últimos setembros. E é o que mais me custa, a frialdade do mar, que eu gosto mesmo de nadar e de mergulhar e de boiar preguiças. Aos poucos o areal deserta-se e, muitas vezes, ficamos completamente sózinhos, já com a lua a colorir os céus e as luzes do outro lado e da marginal a estrelarem as vistas. Voltamos tarde, mesmo tarde, e os miúdos jantam e tomam banho e adormecem a desoras, o que me há-de dar uma trabalheira a reverter ali uns dias antes da escola do maior começar. Mas nestas férias que não sabem bem a férias por não nos termos atrevido a permear muitos quilómetros da maternidade e do aconchego da casa cor-de-rosa, estes fins-de-tarde são o que temos tido de mais parecido com verão.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

summertime 4

O meu filho Joaquim, que não tem medo dos barulhos e agitações do irmão, que pede colo a conhecidos e desconhecidos, que já sobe e desce o escorrega, que mexe em todos os bichos que encontra na rua, que me ignora os nãos e as ameaças às tolices, aborreceu-se com a areia e atravessou as horas todas dos primeiros dias de praia sitiado numa ilha atoalhada a devorar bolachas, iogurtes e uvas e a ver o irmão edificar castelos e saltar ondas.

domingo, 15 de agosto de 2010

summertime 3


Primeiro dia de praia da vidinha do pequeno e do nosso verão. Lá atrás em julho, num fim de tarde com nuvens e ventos.