quinta-feira, 26 de abril de 2007

dúvidas

Papá, poque é que tu nasceste com barba?

terça-feira, 24 de abril de 2007

arrumações

Sem tempos, com frases rascunhadas em draft, com cestos e cestos de roupa para lavar e passar e com um miúdo em impaciências para desenhos e jogos, reorganizo a caixa-casa e troco horas de sono por escolhas de cores e de letras, acrescentos em html e baralhações em xml. E planto uma árvore ali ao lado, na esperança de a regar e de a fazer crescer não só nas horas das sestas do miúdo. Os dias aqui, os trabalhos ali, as arrumações aos poucos.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

o inventão

A nossa nave (nome com que baptizou o carro) é uma guerande corridona. É o quê? Corridona. Corre muito, faz muitas corridas, pecebes?

Pai! Rechegaste!

Vamos fazer uma corrida de tentáculos.

Ai! Os apetadores dos ténis tão muito apetádos.

Mamã, põe corolau no arroz para ele ficar corolido.

Agora vem um pecatum. Ahn? É um pecatum, a nave passa por cima e faz pecatum, pecatum, pecatum. Ah, uma lomba.

Tu és muito mimona, mamã, dás-me muitos miminhos.

Ésses e érres quase todos, frases perfeitas, compridas, completas, sobram-lhe estas pequenas invencionices palavrísticas que me deixam em sorrisos e sem vontades de o corrigir.

sábado, 21 de abril de 2007

quem vê anúncios não vê casas

Vendo bem, bem as coisas, até nem se portou mal e acho que até birrou menos do que aqui por casa, considerando que andou empurrado e arrastado colinas abaixo e colinas acima em buscas de um rés-do-chão com quintal, tarefa quase inconcretizável em meia dúzia de dias. Valeram-nos os pombos, esses incríveis bichos urbanos, sempre à espera de serem alimentados e perseguidos, e os escorregas e baloiços onde ele aproveitou para fazer novos amiguinhos enquanto nós nos afadigávamos à volta de jornais e mapas, quase-turistas não fora o desalento pelos não-achados. E ganhou uma constipação, culpa minha, que mochilo tudo e mais alguma coisa, canetas, cadernos para desenhar, iogurtes e barrinhas de cereais, calças a mais e carrinhos, e não tinha um casaco, confiada nos repentinos vinte e muito graus, quando o miúdo adormeceu todo suado na cadeirinha, Almirante Reis acima, depois de tentar agarrar e nutrir com migalhas da Triunfo dezenas de pombos no Camões. Nem uma fralda de pano, nem uma manta nem nada, que ele já não me dormia na cadeira há anos, o meu bebé grande, pés e pernas e cabeça a sobrarem, corado e sorridente a apanhar frio, culpa minha, mãe descuidada.

Vamos ficar nesta casa, mamã?, perguntava-me no fim de cada sala-quarto-cozinha-wc, sem reparar nos meus horrorizamentos, subsubsubcaves desarejadas, janela de vizinhos com vista para a casa-de-banho, portas da rua onde não cabe um sofá, quartos debaixo de escadas, eu nem sei, que as noites mal dormidas e os calcorreamentos Bairro Alto-Graça-Alfama-Mouraria-Castelo às tantas toldaram-me as capacidades de escolha e estive mesmo ali à beirinha de não pedir mais uma noite na recepção e de voltar desistente e deprimida para a terrinha. Incríveis, os sítios em que as pessoas moram no centro de lisboa. Incríveis, as pessoas que mostram casas. Uma delas optou por falar-nos de auras e vidas passadas e espíritos insatisfeitos, no meio de uma casa labiríntica de cozinha-às-metades e casa-de-banho-às-metades, a bizarrice máxima no meio das bizarrices menores que agora me fazem rir mas a meio, conviventes com dores de cabeça e de pernas, já só me deixavam em desanimadas irritações.

No último dia pesou-nos a consciência, coitado do miúdo, ranhoso, tússico e febril, a Benuron e Vi-Dailin, arrastado de anúncio em anúncio e ainda em contentamentos porque subiu o elevador da Bica e porque o Metro tem muitas escadas rolantes, e escondemo-nos da chuva no Aquáio Vaca da Gama, Não é vaca, filho, é Vasco, Ah, Vaco da Gama, que ele adorou, claro. Saí de lá semi-rouca por ler tanto nome de peixe e responder a tanto poquê, salamandra, peixe-sapo, tubarão-martelo, pelicano, que o miúdo quer ver tudo devagar e com explicações copiosas, correrias desenfreadas e gritarias estridentes paralelas a interesses calmos, a rapidez com que ele se bipolariza deixa-me sempre sem fôlego. Pena os aquários estarem um bocadinho altos, que se fartou de esticar e queixar que não via, mas os interruptores que acendem informações a que já chega compensaram-no das más visibilidades.

E a seguir encontrámo-la. Numa das zonas de lisboa de que mais gostamos. Vitória, vitória, agora é que vai começar a estória.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

bis

Voa, voa, nave amarela, outa vez para lisboa...

dizem que

"Sabes qual é um erro que cometemos sempre? Acreditar que a vida é imutável, que, mal escolhemos um carril, temos de o seguir até ao fim. Contudo, o destino tem muito mais imaginação do que nós. Precisamente quando se pensa que se está num beco sem saída, quando se atinge o cúmulo do desespero, com a velocidade de uma rajada de vento tudo muda, tudo se transtorna, e de um momento para o outro damos por nós a viver uma nova vida."

Vai aonde te leva o coração, Susanna Tamaro, Editorial Presença

geografiando

Lembro a minha avó Rita, viúva, que nunca andou na escola e que se dava quase tão mal com a minha mãe como eu, em lastimações pelos passos andados Se eu agora tivesse vinte anos outra vez fazia tudo diferente do que fiz. E lembro-me em menosprezações de tal (re)viver descontentado com as curvas não viradas. Agora, num percurso um tudo-nada diferente do que projectava percorrer, dou por mim algumas vezes em meditações sobre as encruzilhadas e os caminhos do lado. E reconheço-as, às dúvidas geográficas, que nos fizeram calcorrear planícies encaloradas e oestes ventosos e subúrbios aglomerados e por fim pousar numa beira-mar de veraneantes, sempre em busca de uma casa térrea, com telheiros frescos, barras amarelas, animais na relva e campo a perder de vista. Revejo mentalmente os passos e os cruzamentos e percebo que a estrada recta esteve sempre ali mesmo ao lado, à distância de um simples virar, enquanto eu toupeirava em círculos à procura do lugar ideal.

Volto ao princípio. Com mais anos, mais pesos e um filho, mas com algumas certezas. Geocentro-me. Sei de onde parto e (acho que) sei onde quero chegar.

domingo, 15 de abril de 2007

estória do lobo mau

Era uma vez um lobo muito mau e feroz que andava a passear e viu um poquinho novinho e goducho e côrrosa e comeu-o. Continuou a passear, viu outo e comeu-o. E depois viu outo poquinho e comeu-o. Ficou com a barriga muito barriguda. Deitou-se a domir ao pé de um ribeiro e caíu dentro de água. Os poquinhos conseguiram saltar de dentro da barriga e salvaram-se. Então e o lobo, o que é que lhe aconteceu? Domiu dentro de água.

Mix de três porquinhos com sete cabritinhos, parece-me.

sábado, 14 de abril de 2007

travessias

"A viagem não começa quando se percorrem as distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores."
"A viagem termina quando encerramos as nossas fronteiras interiores. Regressamos a nós, não a um lugar."

Coincidente com este fim da minha viagem circular, leio O outro pé da sereia do Mia Couto que o meu filho (ajudado pelo pai, claro) me ofereceu nos anos. Tal como a Mwadia, também eu me tenho sentido a cumprir "o impossível regresso à infância". Curioso, este paralelar das palavras com a vida.

retornos

A morar na terrinha já há sete anos, temo-nos sempre espraiado por areias mais distantes em detrimento destas aqui só à distância de um rio. Hoje revisitámos a praia do meu passado, não para eu recordar os verões da minha infância mas para o miúdo andar de barco, que não há andanças destas que o enfartem, comboios, teleféricos, empilhadoras, carrinhos de supermercado, escavadoras, pequenas rodagens para grandes felicidades. E no meio destas dúvidas geográficas, ainda nos centramos de uma vez por todas e lá fica o miúdo sem marinhar estas águas do sul. Por isso hoje enchemo-nos de sol e de vento e o miúdo voltou ondulado e contente. Eu não me vislumbrei ali, pequena e morena, e por acaso até revi uma amiga da primeira classe ao décimo primeiro ano, agora com um filho na trotinete e outra na barriga, que nos cinco minutos de casualidades presentes e de recordações passadas, não me conseguiu despertar memórias que me apeteçam reviver. Já no carro, com o miúdo corado a desafinar a falua de belém, ainda me duvidei. Então eu passava quatro meses por ano debaixo deste sol, rebolava-me nesta areia, nadava horas seguidas sem frio nestas ondas, tinha amigos de lisboa e do porto que voltavam sempre no agosto ou no setembro do ano que vem, cruzei-me aqui com o primeiro namoradinho, até foi aqui que conheci o Miguel que depois, muitos, muitos anos mais tarde, num inesperado reencontro e numa outra praia, me apresentou o Mário que agora é meu marido e eu não me sinto nem um nadinha ancorada, só com vontade de soltar de vez estas involuntárias amarras que em vez de serem amparos são empecilhos. E, de repente, ainda com senhores barqueiros e filhos lá de trás em som de fundo, tenho a certeza que a viagem chegou ao fim. Já contracorrentei até à nascente, já a encontrei e já percebi que não a posso esquecer nem fugir dela nem fingir que nunca existiu. Agora, que já a vejo limpidamente, é tempo de seguir o caminho do rio. Para o mar.

primeira vez


Eu ainda nunca na vida tinha andado de báco.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

e agora


Também já vai pintando. Mais ou menos. Com muitos riscos por fora, vazios por preencher, cores trocadas e velocidades em excesso Vês? Tou a pintar muito depéssa, tem que ser assim para ficar bem, muito depéssa! Mas já o faz com agrados, que pergunta Posso pintar o que vem a seguir? e isso é o mais importante de tudo, a prazeirice pelas cores. Antes não considerava estes livrinhos com o modelo ao lado em pequenino a indicar os tons certos grandes estimulantes da imaginação mas depois encontrei estes numa loja das baratices e os tão poucos cêntimos fizeram-me considerá-los uma boa iniciação. No caso do meu miúdo, um bocadinho avesso a regras e cumprimentos de pré-estabelecidos, que nos primeiros fazia três rabiscos apressados da cor que calhasse e dizia Ponto! Já tá!, têm sido úteis. Já vai respeitando as cores, travando as acelerações, algumas vezes colorindo o branco todo, algumas vezes tentando manter-se dentro do limite do preto. E, ainda melhor, acrescenta ervinhas, peixinhos a nadar ao lado, ovos, trigo, maçãs, um sol sorridente, nuvens, vento, a provar que a criatividade está ali, prontinha para se espalhar por páginas mais ou menos estipuladoras. Qualquer dia passamos aos sarrabiscos do Taro Gomi.

agora

Já desenha onde calha.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

e revi-nos



Mãe e pai cô de laranja.

reencontrei esquecimentos

"Por enquanto desenhar com lápis de cor é:
- fazer uma linha com cada cor ao mesmo tempo que a enumera (se só tiver duas cores o desenho dura dois segundos, havendo uma mão cheia de cores sempre dura um pouco mais de tempo)
- experimentar sempre o branco e dizer sempre Ah! Não se vê...
- abrir e fechar, abrir e fechar, abrir e fechar, abrir e fechar, abrir e fechar, abrir e fechar, abrir e fechar... a caixa dos lápis
- desarrumá-los, deixá-los cair ao chão de propósito, riscar a mesa e arrumá-los na caixa a dizer muitas vezes Arruma, Mimão. Ah, não cabe. Ajuda, mamã.
- esticar-me a folha e os ditos a repetir Tu fá, mamã, tu desê, Mimão vê."

As palavras são minhas mas já as tinha esquecido. Esconderam aborrecimentos nas costas de uns rabiscos dele de Abril de 2006 e hoje reencontrei-as nos ordenamentos dos desenhos por idades. Os esquecimentos passados arreliaram-me uns segundos mas o espanto com os crescimentos anuais rapidamente os insignificou. Mais ou menos um ano depois o miúdo fala muito e muito melhor, já desenha com mais gosto, já não rabisca (tão) às pressas e já se remexe menos freneticamente. Valem-me estas memórias apalavradas para acreditar que as coisas vão sempre melhorando.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

dez da manhã

Então eu vou à rua assim? As pessoas vão olhar para mim e vão ver que eu estou todo babado!

(É que o miúdo faz umas alergias ruins às picadas dos mosquitos. Incham, vermelham e aquecem, a ponto de já uma vez nos termos urgenciado a meio da noite por causa de um olho que não abria. Só passa com tempo, creme, mimos para as lamúrias e gotas de Neostil.)

duas da manhã

Começaram a ecoar-me no meio dos sonhos, os Mamã! Mamã! aflitos e os choros. Fui lá, tonta de sono, aos tropeções no escuro, desabituada destes despertares sobressaltados a meio da noite. É uma gânde libelinha, mamã, com umas enómes asas, e ela picou-me. Picou-me muito, doeu muito. Com choro, choro a sério, dorido. Mais um insecto pequenino, amarelo e côrrosa, com asinhas, sabes como se chama? Abraço-o e explico pesadelos, aponto inexistências de tais voadores ali na penumbra do quartinho enquanto me questiono sobre a recorrência, os insectos atormentadores de sonhos, que é feito dos monstros? Deixo-o aconchegadinho em mimos, volto para os meus sonos. Passado um bocadinho outra vez Mamã! Mamã! Tenho medo! Devo lá ter voltado umas três vezes. Na última, já de argumentos em falta, sugeri-lhe sem grandes esperanças Escrevo num papel Pesadelos, xô, vão-se embora, é proibido entrar no quarto do Simão, boa, filho? Boa mamã! Já quase a adormecer congratulei-me com os silêncios no quarto ao lado.

De manhã tinha quatro babas na testa, três na bochecha, duas na mão esquerda, uma na mão direita e uma no braço. Vês, mamã? Eu disse-te que havia aqui uma libelinha!

terça-feira, 10 de abril de 2007

e


provavelmente onze anos de gata.

"é melhor ser alegre que ser triste"

Onze anos de nós.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

tricolor

Quando comecei a empacotar coisas aqui nesta caixa decidi que não a quero encher de birras. Não é isso que quero que nos sobre para o futuro, os maus momentos, aqueles em que não se cresce, não se aprende, não se educa, não se baixa o tom da voz, não se desencantam calmas e paciências. Os dias inúteis, de que só sobram frustrações e vazios e cansaços. Esta caixa não pretende ser cor-de-rosa mas também não a quero pintar de cinzento. Azul, a cor preferida do miúdo e do céu, parece-me bem. E amarelo. E laranja.

domingo, 8 de abril de 2007

da páscoa

A Páscoa da minha infância eram aquelas amêndoas multicolores e rijas, que deixavam incómodos entre os dentes e fomes de doces-a-sério. E eram os ovos, os ovos cozidos que era preciso comer a seguir à última fatia de folar, ressequidos e amarelecidos dos calores do forno. E era a carne, seca, sem molho, carne de animais bebés, o que sempre me dificultou as mastigações, cabritos e cordeiros e vitelos, o serem ainda de leite rotulado como virtude, que se o miúdo não fosse tão avesso a vegetais e a sojas e a tofus e seitans voltávamos à ausência quase total de carne dos anos sem filho. E era a procissão, mesmo, mesmo ao lado de casa, com as velas a iluminarem a escuridão e as figuras em lágrimas sofredoras a inspirarem temores. E os filmes, eram também os filmes que passavam a horas próprias para as crianças os verem, um agonizante martírio de um jesus ensanguentado a arrastar uma cruz pesadíssima e a ser apedrejado e coroado com espinhos e martelado com pregos e a morrer de dores. Durante anos tive pesadelos com esta via-sacra pascal e desconfio que as visões das procissões e dos filmes a juntar às enfastiantes sessões de catequese aos sábados à tarde contribuíram muito para esta minha ausência das igrejas, para não ter baptizado o meu filho e para não o desejar na catequese daqui por uns anos.

O meu miúdo, como se tivesse herdado, juntamente com o feitio dos olhos, os meus desgostos, fica intratável nestas datas. Talvez por olhar para o forno antes de lhe responder ao ecoado Mãe, mãe, mãe, mamã, mamã... ou por repetir várias vezes Agora não posso, querido, tens que brincar sózinho, recebo de volta birras e irritações e gritos e tortices e nãos. Ele não há coelho nem ovos nem prendas nem ralhos que nos aligeirem os maus-feitios... A ver se para o ano é melhor...

sábado, 7 de abril de 2007

zoo de cartão

E as visitas diárias continuam. Agora o guia é ele.

As mamãs hipopótamos nadam com a cabeça e as costas fora de água e levam os filhotes empoleiados lá em cima delas. São muito engaçados e goduchos, os hipopótaminhos!

As girafas têm os becoços muito, muito, muito compidos para conseguirem comer as folhinhas lá do alto das ávores, que são as mais liciosas.


Os elefantes abanam as suas gândes orelhas e os seus rabinhos pequeninos para enxotarem as môcas... moscas. Parecem uns mata-moscas, os rabinhos deles!

As crias das baleias nascem dentro de água. Sabias, mamã? E mamam! Como os meninos bebés!

Alto, largo, grande e..., Editora La Coccinella.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

contavam contos

Ía muitas vezes ler este pequeno heroi com ar de principezinho e lastimar-me pelas não-iniciativas de contos e de actividades para pequenos (e grandes) cá da terrinha. Se soubesse que vai fechar tinha lá passado numa destas tardes de lisboa. Que pena.

quinta-feira, 5 de abril de 2007

finais

Que isto já vai muito longo...

. não sei se andámos sempre destrocados nas conduções mas estivemos mais tempo parados na vinda por causa de um rally de que nem suspeitávamos do que nas sempre noticiadas filas da cidade grande
. continuo a não saber conduzir em lisboa; ele continua a desenrascar-se perfeitamente, que só nos perdemos uma vez e a culpa foi minha por ler mal as indicações
. o miúdo, que cá em casa não se aguenta sossegado mais do que cinco minutos, faz viagens de três / quatro horas sem um sono e sem pedir para parar uma única vez - com muita cantoria e estorieta e conversa, claro...
. veio de horizontes alargados e de língua destravada, que foi para liboa e voltou de lijboa
. sempre cresceu aos saltos, em centímetros e nas compreensões; está a dar um nos sonos, que recusa a sesta desde que voltou Eu já não uso chucha para domir, já sei pedalar, já não peciso de domir a seta... a sesta, que já domi muitas sestas, já não tenho sono. Mais do que ralar-me com as birras nas horas do banho e do jantar, fazem-me falta as duas preciosas horinhas para trabalhar...
. os amores pelos animais ainda vieram mais sólidos, que leva os dias a monodialogar sobre elefantes e crocodilos e águias e as garfadas-avião transformaram-se em garfadas-barco carregadinhas de peixes-luas e de garoupas e de Eusébios e de anémonas...
. repete a quem o quer ouvir Eu adoro muito lijboa e eu oiço-me com a idade dele a dizer o mesmo mas fico-me cá a pensar que o devia ter enfiado num metro às oito e trinta da manhã e num continente às sete da tarde para ele perceber que por lá não há só árvores e animais e parques infantis...
. pergunta-me todos os dias quando vamos outa vez a lijboa?
. pergunta-me todos os dias poque é que nós não moramos em lijboa?
. tudo me parece ainda mais pequenino desde que voltei; sinto-me liliputiana a asfixiar num portugal dos pequeninos e balanço vantagens e desvantagens sem conseguir acertar na geografia certa
. quais foram mesmo os motivos que me fizeram abalar para a província?
. pergunto-me todos os dias Mas porque é que não moramos em lisboa?

quarta-feira, 4 de abril de 2007

o provincianinho em lisboa - amizades

Eu a tentar enfiar-lhe garfadas de massa (para quê com molho de tomate?...) nas pausas das tagarelices profusas sobre as brincadeiras. Eu era o número três três, é tinta e três, mãe? O menino número sete deu-me um belicão aqui na bochecha, assim, vês? Porquê? Eu dei-lhe uma dentada. Oh Simão, não podes dar dentadas nos outros meninos. Nem bater, isso é muito feio. Ele disse-me Não faças isso. Eu pedi deculpa e ele também pediu deculpa. E demos um passou-bem, assim, vês? E depois fomos atirar bolas aos outros meninos. As meninas fugiram todas com medo.

Afinal são os semelhantes que se atraem.

terça-feira, 3 de abril de 2007

o provincianinho em lisboa - meios




Levei coisas a mais, claro. Não li, não escrevi, não tricotei e não descansei, que voltei com as pernas doridas de tantas andanças. O miúdo não dormiu uma única sesta e chegou às meias-noites ainda com energias e vozes para cantorias, poquês e cócegas. E sobreviveu às custas de cheesenaturas e almôndegas e batatas fritas e outras fastfoods que tais, que eu ainda achei que a casinha com mini-cozinha nos ía permitir grelhados e cozidos e saladas, mas acabámos a ficar por lá só os tempos dos sonos, dos banhos, dos cafés da manhã a ver os esquilos, das caminhadas e dos escorregas e baloiços. A tv que a menina da recepção fez questão de frisar que era por cabo que mal se ligou e os olhares desinteressados que ele deitou ao panda confirmaram-me que não precisamos mesmo da enorme quantidade de canais que optamos por não ter cá por casa.

Delirou com o peixe-lua e com os tubarões e no fim quase choramingou Mas eu quio ir outa vez... Queria, não é querio. Bom sinal.

Fez festas às cabras, adorou as tartarugas gigantes, as girafas, os elefantes, os camelos, os dromedários e os crocodilos. Não teve medo nenhum das alturas do teleférico. Encheu-se de penas por não ver os saltos dos golfinhos. Às seis achou que aquilo fechava demasiado cedo, Mas eu quio mais... Não é querio, é queria. Mas eu sou menino... Bom sinal.

Brincou quase duas horas no espaço infantil da ikea (única excepção nas decisões Não nos vamos enfiar em centros comerciais e lojas), encantado com a piscina de bolas e com o sapato e a teia gigantes. Conclusou que se a escola tiver uma pofessora boazinha como a Sílvia daqui eu queo ir. Óptimo sinal.

Gostou muito de Sintra e da serra e dos palácios e de Colares e da praia e do eléctrico vermelho e das casinhas do Capuchinho Vemelho. Só teve um bocadinho de medo das guerandes ondas.

Os dias não chegaram para tudo. Ficaram muitos sítios por ver e muitas coisas por fazer.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

o provincianinho em lisboa - princípios


Nas quase quatro horas de condução trocou os sonos que costumam ser habituais pelos Já chegámos? Agora já chegámos? de cem em cem metros, pelos Olha! Porcos! Olha! Vacas! Olha! Ovelhinhas! de duzentos em duzentos e pelos Poquê? Diz lá, é poquê? de kilómetro em kilómetro. Quando chegámos a Liboa, a terra onde o papá nasceu e para onde a mãe veio e onde se conheceram e viveram muitos anos, que o miúdo tem maus feitios para muita coisa mas boas memórias até para o que é dito em descuidos, espantou-se com a guerande ponte vemelha e o cristo-rei e transferiu as atenções dos quadrúpedes para os motores Tantos autocarros! Tantos carros! e Poque é que parámos? Poque é que parámos outa vez? Mas não há aqui confusões nenhumas... acusou-me de dedo espetado quando aterrámos na casa. E teve razão, que eu descrevi-lhe multidões e aglomerados de prédios e metros cheios e pressas mas levei-o para uma casinha de brincar no meio de árvores fenomenais (ai o tempo que me faltou para as fotografar...) e de melros e de esquilos. Uma pena as camas serem tão irregulares, que na metade das noites que não insonei em voltas à procura de confortos e dos cinco kilos da gata nas pernas, andei em fugidas de pés e mãos e cabeça, que o miúdo, que tem péssimos dormires em lençóis desconhecidos, prescindiu da chucha recém-catalogada-objecto-de-bebé mas não dispensou a mãe ali mesmo ao lado. Eu góto muito desta casinha, ainda conseguiu sussurrar depois dos ralhos Agora é que acabou mesmo, toca a dormir.