segunda-feira, 30 de julho de 2007

home, cool home

A casa em que existimos antes desta, já a não merecer o nossa nos cada vez mais raros discursos, era um despropósito de espaços. Um sem número de divisões, mais um desperdício de corredores e portas e escadas, tortuosos quintais e inúteis casinhotas e anexos sem préstimo, dois andares de tectos altíssimos e uma infinidade de janelas. Fervia-nos no Verão e congelava-nos no Inverno. Esta, a que agora recebe o nossa antes do substantivo, mesmo com os interiores somados ao quintalzinho deve caber umas... quatro?... cinco?... vezes na passada. Não tem vidros duplos nem ar condicionado mas ainda não liguei nem uma ventoinha (nem com as previsões dos quarentas e muitos graus), durmo tapada com o lençol (há duas ou três noites também com uma manta fininha) e pagamos à EDP metade do que pagávamos. Hoje medimos as paredes. Setenta e cinco centímetros.

domingo, 29 de julho de 2007

máscaras, papéis e panos

Já há dois ou três domingos que andávamos para lá ir mas por atrasos matinais ou por outros destinos fomo-nos adiando. Hoje finalmente o vinte e oito, autocarro preferido do miúdo pelos comprimentos acoplados, levou-nos ao Museu de Etnologia, gostado logo do lado do jardim por causa dos troncos-labirinto. Eu ía mesmo era para ver as tiras coloridas mas coincidimos na chegada com as horas das explicações nas Galerias da Amazónia por isso o miúdo estreou-se na primeira visita guiada e até se atentou e silenciou muito mais do que eu esperava. E gostámos muito, os dois, das máscaras e dos utensílios e das cerâmicas, que hei-de pôr aqui ao lado galinhas e leopardos e panelas de barro quando me sobrarem tempos.

Depois sim, fomos ver e ouvir as pinturas cantadas das mulheres de Naya, ainda mais coloridas e bonitas do que já as antecipava. O miúdo não teve paciências para o filme mas espantou-me com as facilidades com que percebeu os seguimentos das estórias e com os quereres tanto entender tsunamis e sidas e onzes de setembro e meninas rejeitadas, porquês tão difíceis de explicar.

Terminámos nos panos da Guiné e de Cabo-Verde, com ele já justificadamente aéreo mas ainda em decifrações de letras e palavras.


Para a semana voltamos, que às dez e meia anda-se pelo Mundo Rural, e aproveitamos para espreitar outra vez papéis e panos.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

o que faltava

Não sei se já alguma vez o escrevi aqui. Não tenho tempo para reler, para desnecessariar repetições, para desencantar lacunas. Não tenho tempo. Por isso não sei se já o escrevi aqui. Lembro-me, isso sim, de escrever amiúde sobre os dias apressados, as correrias desenfreadas, as gritarias e as birras, as piadinhas, os pequenos crescimentos, os livros. Acho mesmo que ainda nunca escrevi aqui que o meu filho mo diz várias vezes ao dia. Enquanto o esponjo na banheira. Enquanto puxa o carrinho vazio até ao Minipreço em corridas para ganhar e ser o mais rápido e forte do mundo inteiro. Enquanto sopro de impaciência por ter que lhe enfiar garfadas de bacalhau à brás nas ínfimas pausas da tagarelice. Enquanto lança o dado do jogo da glória. Enquanto lhe atiro água na praia. Enquanto o empurro no baloiço ou o faço saltar no sobe-e-desce. Quando chego ao ponto final da última página da estória da noite. Enquanto tento ler o jornal. Enquanto o pai me tenta dizer alguma coisa importante no carro. Depois de lhe ralhar por ter pisado o rabo da gata ou dado um pontapé à Doris. Depois de lhe ter gritado irada por estar quase há duas horas em brincadeiras com dedos e garfo e copo e comida enquanto o empadão arrefece e resseca no prato. Depois de lhe dar uma palmada. Acho mesmo que nunca escrevi, aqui, que o meu filho me diz várias vezes ao dia Gótanti, mamã, a apressada versão do Gosto tanto de ti repetida todos os dias nos acordares e adormeceres. O meu filho, que nunca amua e que pede desculpa sem ser preciso indicar-lho, diz-me que gosta muito de mim pelo menos duas mãos cheias de dedos por dia. E era uma grande pena eu ter um blogue de quando ele era menino e não escrever aqui uma das coisas mais importantes dos nossos dias.

Também gómunti, meu amor.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

q de querer saber

Olha mamã! Um T! T de tubarão! Olha! Um B! B de burro! E de bolacha! E um X! De xixi! E comboio, qual é a letra de comboio? E miturar, podemos miturar as letras? Um A e um I é... a... a... i... ai?

É o interesse do momento. Junto com os dinossauros e os números-percursos dos autocarros.

terça-feira, 24 de julho de 2007

nas horas

Entre os lidos lá e os emprestados para reler (quase) até à exaustão numa semana, estamos quase a esgotar o pré-escolar (que podia-devia ser mais vasto...). As minhAs Horas roubaram-lhe quantidade mas não agrados, que ao fim dos quinze dias estipulados, inéditamente, não quis trocar os primeiros trazidos do escolar por novos mas sim renovar. Já os sabe de cor...

As amizades. As flores pequeninas. Um mimo.

Os Presentes, Maria Keil, Histórias de "amor de mais", Livros Horizonte



O A, o E, o I, o O e o U em alegres e coloridas brincadeiras.

AEIOU, História das cinco vogais, Luísa Ducla Soares e Manuela Bacelar, Edições Afrontamento



Para cada letra um bicho e um poema.

O Alfabeto dos bichos, José Jorge Letria e André Letria, Oficina do Livro

segunda-feira, 23 de julho de 2007

dizem que

"Parece de súbito fácil fazer um bolo, criar um filho.(...) Parece possível (não parece impossível) que tenha transposto uma linha invisível, a linha que sempre a separou do que preferiria sentir, de quem preferiria ser. Não lhe parece impossível que tenha sofrido uma subtil mas profunda transformação, aqui, nesta cozinha, neste mais natural dos momentos: acertou as contas consigo mesma. Esforçou-se durante tanto tempo, tão arduamente e com tanta boa-fé, e agora descobriu o truque de viver feliz, sendo ela mesma, do mesmo modo que uma criança aprende em determinado momento a equilibrar-se numa bicicleta de duas rodas. Parece que vai ficar bem. Não perderá a esperança. Não lamentará as suas possibilidades perdidas, os seus talentos inexplorados (e se, no fim de contas, não tiver nenhum talento?). Dedicará a vida ao seu filho, ao seu marido, ao seu lar e aos seus deveres, a todas as suas dádivas."

As Horas, Michael Cunningham, Colecção Mil Folhas

as horas

Reduzi-lhe os habituais cinco para quatro e obriguei-o a emudecer no andar dos crescidos enquanto o procurava no meio dos livros sem desenhos. Já acabaste de ler O vento assobiando nas gruas, mamã?, segredou-me, que agora anda sempre em curiosidades pelas estórias que habitam a minha mesinha de cabeceira. Sim, filho, já o reli todo, que da primeira vez a novidade e a canseira das fraldas e das mamadas e das noites tão choradas não me deixaram prestar muita atenção aos amores normais (e lindos!) da Milene e do Antonino. E agora, vais ler este? É sobre quê?, já a desistir dos segredamentos. Uma escritora e um livro e outras pessoas, resumi atabalhoadamente, aqui tens que falar baixinho, depois conto-te mais.

Li-o em três noites. Ando ensonada mas ainda com mais vontade de ver o filme. E de reler a Virginia Woolf.

domingo, 15 de julho de 2007

carruagens, berlindas e liteiras



Papá, papá, fui ao museu dos coches!
E gostaste?
Sim, muito!

terça-feira, 3 de julho de 2007

estória(s...) do dia

Era uma vez um gato que estava perdido. Estava muito tiste e chorava. Ficou mais animado e foi pocurar pessoas. Ajudas-me a encontrar o meu dono, por favor? E andaram, andaram e apanharam trompetes, dois trompetes. E tocaram. Encontaram o dono. Vitória, vitória, acabou-se a estória.

Era uma vez um menino que quesceu, quesceu, quesceu e transformou-se num senhor. Foi à loja comprar batatas fritas. E o senhor disse ao senhor da loja Há batatas? E o senhor levou-as para casa. E disse Ahhh! Ahhh! O gato ficou em cima do armário da cozinha. E disse Vai-te embora para o teu quarto. E ele ficou a chorar. Cada vez mais, cada vez mais, cada vez mais. E brincou com os seus binquedos, assim, de borracha, que não se partiam. E o senhor papou. Acabou.

Era uma vez uma abelha que estava louca. Louca, louca, louca. E fez muitas bincadeiras parvas. Esta não é uma estória, é uma cançãozinha pequenina, assim muito minúculazinha, lá lálá lálá, a abelha louca, lá lálá lálá...

E o arroz e as lulas à espera no prato...

segunda-feira, 2 de julho de 2007