terça-feira, 23 de janeiro de 2007

às avessas

Estava previsto para dez mas adiantou-se e, sem avisos de dores, nasceu a trinta, inesperado e súbito. Foi sempre assim, desde a primeira respiração sózinho, especialista em reversos. Quando eu esperava sonos, tinha despertares. Quando esperava calmas, tinha choros. Quando esperava fomes, tinha faltas de apetites. Quando lhe cumpria as rotinas, tinha quebras. Quando havia imprevistos, ele repetia os horários anteriores. Trocou-me as voltas e as teorias desde o primeiro dia. Assim, preparo-me sempre para o pior. Antecipo dificuldades, prevejo desagrados, negativizo, estreio-me pessimista. Primeira papa? Primeira sopa? Começar a andar? Usar o bacio? Falar? Comer sózinho? Espero sempre acelerações onde faziam falta vagares e imaturidades onde faziam falta pressas. E, regra geral, tenho-as. Neste difícil puzzle da maternidade que me esforço por construir o melhor que sei e consigo o meu filho mostra-se-me todos os dias como peça contrariada em encaixar nos sítios novos. Vou limando arestas, acrescentando bocadinhos e acenando com seduções de meninos grandes a ver se no fim de tanta turbulência equilibramos o desenho final.

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