terça-feira, 27 de março de 2007

desculpa, filho


O miúdo antes perguntava-me se eu estava zangada ou contente e isso intrigava-me, não por ele mas por mim. Depois deixou-se dessas bi-interrogações e agora, lá muito de vez em quando, inquire Tu gótas de mim, mamã? E só a possibilidade da suspeição deixa-me dorida. Será que ralho a mais? Que grito a mais? Que castigo a mais? Que me zango a mais?
"Hoje de manhã, a minha mãe gritou comigo, e eu fiquei desfeito. A minha cabeça voou para junto das estrelas. O meu corpo perdeu-se por entre as ondas do mar. As minhas asas voaram e só pararam na selva. O meu bico foi parar ao cimo de um monte. A minha cauda ficou perdida no meio da cidade. As minhas patas, primeiro, ficaram paralisadas, mas depois, começaram a correr, a correr sem parar. Eu queria encontrar-me, mas os olhos estavam perdidos no Universo... queria pedir socorro, mas o meu bico continuava no meio dos montes... queria esvoaçar, mas as asas continuavam perdidas no meio da selva. As patas estavam já tão cansadas que pararam para descansar no deserto, para aproveitarem o fresco de uma grande sombra que por ali passava. A mãe, depois de ter gritado, tinha ido ao encontro de cada parte de mim e, com paciência, linha e agulha, já tinha unido quase todas. Só faltavam as patas. Desculpa! - disse, por fim, a mãe que tinha gritado."
Sim, meu querido. Gosto. Gosto quando rio e quando grito. Gosto quando dou beijinhos e quando dou palmadas. Gosto muito. Gosto sempre.
Quando a mãe grita..., Jutta Bauer, Ana Paula Faria - Editora

1 comentário:

Anónimo disse...

ola. Apenas queria dizer te que um dia fui buscar um livrito à biblioteca para ler a um miudo ao qual fazia babysitter. Encontrei esse livro.
Como um livro para crianças conseguiu tocar tanto em mim? É um livro lindo. Profundo. Fico contente em ver que afinal, não foi só em mim..

:)