sábado, 14 de abril de 2007

retornos

A morar na terrinha já há sete anos, temo-nos sempre espraiado por areias mais distantes em detrimento destas aqui só à distância de um rio. Hoje revisitámos a praia do meu passado, não para eu recordar os verões da minha infância mas para o miúdo andar de barco, que não há andanças destas que o enfartem, comboios, teleféricos, empilhadoras, carrinhos de supermercado, escavadoras, pequenas rodagens para grandes felicidades. E no meio destas dúvidas geográficas, ainda nos centramos de uma vez por todas e lá fica o miúdo sem marinhar estas águas do sul. Por isso hoje enchemo-nos de sol e de vento e o miúdo voltou ondulado e contente. Eu não me vislumbrei ali, pequena e morena, e por acaso até revi uma amiga da primeira classe ao décimo primeiro ano, agora com um filho na trotinete e outra na barriga, que nos cinco minutos de casualidades presentes e de recordações passadas, não me conseguiu despertar memórias que me apeteçam reviver. Já no carro, com o miúdo corado a desafinar a falua de belém, ainda me duvidei. Então eu passava quatro meses por ano debaixo deste sol, rebolava-me nesta areia, nadava horas seguidas sem frio nestas ondas, tinha amigos de lisboa e do porto que voltavam sempre no agosto ou no setembro do ano que vem, cruzei-me aqui com o primeiro namoradinho, até foi aqui que conheci o Miguel que depois, muitos, muitos anos mais tarde, num inesperado reencontro e numa outra praia, me apresentou o Mário que agora é meu marido e eu não me sinto nem um nadinha ancorada, só com vontade de soltar de vez estas involuntárias amarras que em vez de serem amparos são empecilhos. E, de repente, ainda com senhores barqueiros e filhos lá de trás em som de fundo, tenho a certeza que a viagem chegou ao fim. Já contracorrentei até à nascente, já a encontrei e já percebi que não a posso esquecer nem fugir dela nem fingir que nunca existiu. Agora, que já a vejo limpidamente, é tempo de seguir o caminho do rio. Para o mar.

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