terça-feira, 25 de setembro de 2007

mais ou menos online

Preconceituei-me logo assim que o vi. Tinha-o configurado magrinho, assim dioptrado e a dialogar naquele jargão mais inglês do que português. Vício tonto e inútil este, o de criar pessoas a partir de vozes ao telefone, palavras em livros e vislumbres de salas em janelas. Este, achado meio ao calhas nas páginas amarelas, avolumou-se na porta e desapontou-me radicalmente as imaginações. Um cabelo enformado em gel com os óculos artisticamente equilibrados no penteado, um perfume intensamente adocicado, um Ken celulóidico desterrado de um cenário de cabeleireiro ou de loja de roupa onde encaixaria perfeitamente. Logo eu, que se tivesse uma filha lhe esconderia as Barbies como (por enquanto...) escondo os Action Men do miúdo. Nossa, quantos anos tem esse cachorro tão grândji aí larrrgado?, os érres de um interiô distante mais interessados numa Doris que abana o rabo a qualquer incógnito do que nas minhas queixas informáticas travaram-me as insurreições Largado? Qual largado, que vai à rua três vezes por dia, e não é cachorro, é uma cadela com sete anos! a tempo, que as diferenças não estão só na musicalidade das falas. Dois dias no máximo, diagnosticou, limpar o vírus, baixarr o XP, formatarr, sábado o mais tardar tá cá com você. Ignorei os érres a mais, que xenofobias por cá não há, e fiz por ignorar o perfume e o cabelo gelizado, que preconceitos também não. E depois fui ficando cada vez mais neurótica, que isto de ter os sorrisos do miúdo entregues a um coração rígido é descuido indesculpável e fui telefonando manhãs e tardes em ansiedades com os backups e quando os Talvez e os Só amanhã me soaram demasiado repetidos e os zeros orçamentais duplicaram, desisti e exigi o bicho de volta, problemático, errático e virulento tal como foi. Velho e voluntarioso mas com os cinco gigabites de risos do miúdo intactos e com a caixa aqui à espera de palavras. E isso é que conta.

Penso num bicho novo enquanto me afadigo a passar-nos para corações-R.

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