quinta-feira, 4 de outubro de 2007

novo dia, sigo pensando em você...


Esta semana tem escorrido triste. Ou melhor, nós, eu e o pequeno, é que temos escorrido tristes por ela. Segundámos mal. Foi assim uma espécie de dó desafinado lá no início da escala dos dias, um pé esquerdo no começar a caminhar. Não consegui voltar a adormecer depois dos adeus ensonados e enfriorados à porta, eu que ando tão cansada que caio nos sonos com o Nenhum Olhar aberto no colo. Almofadei preocupações com as estradas e as distâncias, revolvi ausências nos dias e nas noites, espertinei desilusões com a subtracção errada quando se queria era uma adição de uma ou duas parcelas. O pai? Foi levar a Doris à rua? Empijamado, embrulhado na fofinha, a entrar-me pelas insónias ainda antes da estridência do despertador. O pai? Tá a tomar banho? A livrar-se dos chinelos, a trepar pelos lençóis. O pai? Abraçado a mim, morno dos ensonamentos, o cheiro bom dos acordares. Segunda de manhã e o miúdo ainda desespera o previsível. Então, querido, o pai foi para a casa velha, tu sabes, vai todas as semanas... Oh, que pena, tenho tanta pena, tenho tantas saudades dele, as queixas mansas tão desabituais em quem escancara tão estrondosamente as frustrações, a ocupar a metade da cama do pai, a almofada do pai, o cheiro do pai, as marcas do sono do pai, os sonhos do pai. Ausentou-se-me a coragem para as obrigações de roupa e cereais e horários e deixei-o a consolar-se nos sonos quase até ao meio-dia enquanto eu me gastava nos desconsolos. E a escala foi seguindo desarmónica. Terça fomos lá, à Paula, o que também nunca me afina muito os dias. E ontem a primeira reunião de pais destrocou-nos as horas nossas e retardou-nos o jantar e os adormeceres. Vou escondendo saudades, fingindo normalidades e minguando prazos. O miúdo vai desenhando o pai e encarreirando o pê, o a e o i depois de durante muito tempo só enfileirar o ésse, o i, o éme, o a e o o.

Na próxima segunda faço um bolo. Boca doce, pé direito.

(O nome do post é uma frase de uma música muito gostada cá em casa, O Bonde do Dom, da Marisa Monte)

2 comentários:

Paula Sofia Luz disse...

Sim, faz de chocolate! bj

ângela disse...

Hum... estás combinada com o meu miúdo? É que ele quer sempre de chocolate. Ou de iogurte ou de requeijão "se também levar chocolate".
Um beijinho.