sexta-feira, 9 de novembro de 2007

desplaneada

Não tinha chegado nem há meia-hora e ziguezagueava pela casa em telefonices com o meu amor, quando o pi-pi...pi-pi... me interrompeu os planeamentos Agora bebo um café, aspiro e a seguir sento-me a trabalhar. A voz, murchinha, chorona, Mamã, doem-me muito os ouvidos, e depois a Maria, É melhor vir buscá-lo, ele está mesmo muito aflito. Lembrei-me logo das queixas matinais, Dói-me este ouvido, que desconsiderei por ter sido antecedida por um Dói-me aqui a unha do pai de todos e seguida por um E também me dói o cabelo, aqui atrás, vês?, que todos os pequenos-almoços lista padecimentos assim que lhe aparece a tijela de nestum à frente.

É o melhor, tem urgência de otorrino, e até lhe fica aí muito perto, aconselhou-me a enfermeira da saúde vinte e quatro que me auscultou as queixas e os choros já encaseirados do miúdo. Um despropósito, que devia era ter repetido o hospital lá de cima, que as urgências pediátricas são sempre aceleradas. Mas não, empurrei o miúdo, numa cadeirinha desutilizada há mais de um ano, a embater nos carros estacionados em cima dos passeios e nos caixotes do lixo atravessados em cima dos passeios e nos esburacados da calçada até ao hospital ali da rua de baixo. Que seria o melhor se a única funcionária do guichet não estivesse sem trocos para pagar à senhora antes e não tivesse que ir buscá-los a uma cafetaria concerteza muito longe e se não fosse só estar uma médica nas urgências porque os outros tinham ido beber café - concerteza na mesma cafetaria - e se não fosse não terem triagem,Tem que esperar, as urgências são por ordem de chegada. Vali-me dos choros estridentes Mamã, dói muito, ajuda-me (e não há nada pior do que ter um filho a chorar de dores e não conseguir fazer nada...), da simpatia dos outros doentes-não-tão-urgentes, e das duas colheradas de be-nu-ron e uma de brufen não terem resolvido a questão para ser atendida antes. É uma otite a começar nos dois ouvidos, disse a médica, ligeiramente alentejana, ligeiramente estridente, ligeiramente antipática. Ainda questionei o antibiótico Faz mesmo falta? De certeza?, que consegui que até agora tudo sarasse com maxilase, mas as recusas levemente irritadas da médica e o choro do miúdo amoleceram-me as persistências.

Agora sonha queixumes, aqui no sofá, embrulhado na minha manta verde, e eu não bebi o café nem aspirei nem me sentei a trabalhar. E acho que o infantário, no meio das (primeiro escrevi poucas, a seguir apaguei) coisas boas que tem, também me devolve um filho mais vezes doente que saudável. E isso não é uma desvantagem assim tão pequena...

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