sexta-feira, 2 de novembro de 2007

dia das bruxas

Com os mesmos tamanhos que o meu filho agora tem, o um de novembro era o dia de finados. Não o dia das bruxas, que as lojas não alardeavam máscaras e a televisão, descolorida nas imagens e nos programas, não seduzia com abóboras e doces, e também não o dia de todos-os-santos, que muitos são milagreiros e a minha mãe queria o evento lúgubre e penoso. Tinha pai, avós, bisavós e mais três ou quatro parentes de graus confusos para cuidar e chorar no cemitério da terra pequena encostada ao rio grande. Eu, invulgarmente, ganhava espaços, que também havia muita informação para mexericar com as vizinhas que só achava uma vez por ano, e passeava-me, mais-ou-menos em liberdade, pelos idos dos outros, a ler nomes, a ver fotografias amarelecidas de inexistências e a imaginar vidas, estórias para as vidas já morridas. Sem medo, parece-me estranho agora, crescida, a ver-me pequena sem medo da morte, ali, naquele sítio desabitado por vivos, que depois em casa as covas e os bichos afligiam-me os sonhos e desacreditava do céu e das promessas de felicidades paradisíacas.

Duas meninas foram bruxas para a escolinha na quarta-feira, assim mesmo a sério, que uma até tinha vassoura (e varinha mágica!) e o meu miúdo voltou a falar do dia das bruxas e a dizer que para o ano também se quer macarar. Eu cá parece-me bem, que não o desejo numa infância tristonha e atormentada como a minha, e bolinhos e fantasias são mais ajustados do que campas e tristezas. Para o ano tornamos nossa a tradição e temos diabrete!

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