sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

casa roubada

Acho que, no fim de tudo, o que me importuna mais é mesmo a concessão. O Está bem, só mais cinco minutos respondido indolentemente ao Posso brincar mais um bocadinho? A meio das correrias e enervamentos subsequentes parece-me que ainda lhe inapropriei um Nunca mais me pedes para lá ficar nem mais um minuto. Ouviste? de dedo espetado na cara chorosa. Trancas atrasadas.

Isso e a falta de cuidados. Duas auxiliares e uma educadora a desperdiçarem atenções nas mochilas da natação e nas autorizações para o circo e nenhuma de olho no escorrega. Alto. Que eu já tinha pensado tantas vezes que aquilo é demasiado alto e que os vinte e seis miúdos esbarram selvaticamente uns nos outros nas subidas aceleradas e nas descidas descuidadas. E desde que vi um aterrar a cabeça na borracha gasta do chão e chorá-la mais de meia-hora ainda o achava mais alto.

De qualquer maneira não esperava vê-lo voar. A bata nova aos quadradinhos onde cosi o nome no fim-de-semana passado, o casaco castanho com o capuz laranja, gosto tanto de o ver de cor-de-laranja, as calças com os joelhos sempre encardidos, tudo a vir por ali abaixo e a desabar em cima do pulso e da mão. Tão pequeninos, o pulso e a mão. Tão pequenino, ainda, o meu menino. Só não tive tempo de presumir desventuras maiores enquanto velocidava o pátio porque os gritos estridentes me atalharam logo as imaginações.

E não esperava tê-lo com um braço engordado e imobilizado com gesso e ligaduras durante um mês. Isso é que não esperava mesmo...

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