quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

, com os pés onde calha

Eu até não percebo como é que não estava já preparada, que o miúdo sempre se ensarilhou muito com os espaços. Mas achei que eram descoordenações dos primeiros anos e que as maturidades dos crescimentos, para além de calmas, lhe trariam motricidades menos desajeitadas. Enganei-me. As desorientações não são defeito, são feitio.

Nos primeiros colos atirava-se, atirava a cabeça, atirava os braços, atirava as pernas, atirava o corpo todo. Cruzava-se a meio com esquinas ou portas ou prateleiras ou paredes ou joelhos ou cabeças nossas. Nos gatinhamentos cabeçou todos os obstáculos que encontrava pelo caminho até eu desistir de contabilizar nódoas negras e arranhões e marcas vermelhas. E o bipedismo atirou-o de vez contra todas as esquinas e todos os cantos aguçados e todos os puxadores de portas e gavetas. Ainda me sobram cantos emborrachados em sítios inimagináveis. E continua a desencaminhar-se. Anda de bicicleta a olhar para trás. Corre a contar nuvens até abalroar postes de luz ou caixotes do lixo ou carros mal estacionados. Atravessa a rua a correr sem espreitar antes para esquerdas e direitas. Pára no meio da passadeira porque há uma pedrinha linda e redondinha que parece a lua mesmo ali no meio da risca branca. Esbarra sempre na esquina da mesa da cozinha e na barra do fundo da cama dele e no puxador da porta da cozinha e no ferro da minha cama. Chora, grita que lhe doeu muito, soma pequeninas cicatrizes mas continua a preferir os caminhos tortos. Quase sempre.

É um desastrado, portanto. Sonhador e desastrado.

2 comentários:

Rita Quintela disse...

:)

ângela disse...

Olá Rita-Galinha!