quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

com fome

Já vinha a repará-la desde a subida, que o nem o miúdo perde os hábitos de espreitar nuvens nem eu os de espreitar janelas e varandas. Cabeças no ar, ele a perguntar, eu a esquecer-me de responder. A invejar-lhe os pés descalços ao sol, a palha primaveril na cabeça, o livro no colo, o descanso na varanda. E a descontabilizar anos de preguiçamentos. Aos tempos que não esplanado, que não revisto futilidades, que não me afundo na banheira cheia, que não leio sem sono, que sou interrompida em tudo pelos Mãe! Mamã! Mamã, responde-me! A cobiçar-lhe a folga. Quando de repente ela levantou os olhos do livro e nos encarou. O miúdo embatado aos solavancos na minha mão, a urgência de não chegar depois das nove, a cantoria O coelho Alberto disse ao neto que é perigoso andar a passear com a mão livre a dentar feita crocodilo. E era capaz de jurar que a percebi a descontabilizar passados e a invejar-nos. Pode ter sido só impressão minha. Mas era capaz de jurar. Sorrimo-nos. Ela voltou ao livro, eu apressei-me, ele continuou Passo a passo o crocodilo avança, abre a boca...

Tonta. Queixo-me de barriga cheia.

Sem comentários: