quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

princípio

Se eu me decidisse a desperdiçar horas e euros num desses médicos que nos avalia as conversas e as infâncias e a seguir dá nome de enfermidade aos sermos e aos sentirmos, tenho quase a certeza que voltava de lá com um diagnóstico de um qualquer síndrome depressivo ou transtorno de personalidade ou perturbação regulatória de algum tipo pouco falado. E, claro, com uma receita de comprimidos para me entorpecerem os dias e aumentarem os sonhos. Como daquela vez, há muitos anos, em que precisei de um atestado e devo ter exagerado tanto nas desmotivações e nos desconsolos que o médico, sério e engravatado, me feriou três meses em casa e me prescreveu uns minúsculos círculos brancos que na bula me prometiam alegrar e desenervar os humores. Morreram na sanita, que eu desacredito nos anti-depressivos milagrosos, quase tanto como dasacredito que o risperdal desintroverta meninos autistas ou que a ritalina sossegue meninos hiperactivos. No auto-conhecimento, nisso acredito. E no direito à diferença. Timidezes. Euforias. Envergonhamentos. Exageros. Pudores. Pode alguém ser quem não é, canta o Sérgio Godinho. E (desen)canto eu às vezes ao miúdo, para que ele trepe centímetros com a certeza que pode (e se calhar até deve...) ser diferente.

Início demasiado palavroso, este, para escrever que não sou muito festeira. Não esbanjo risos. Deve ser concerteza algum modo de desfuncionamento, isto, que me leva a dizer favoritos os livros que me fazem chorar e os filmes que me afundam em nostalgias. Aguo-me muito, corridamente, demasiadamente, por nadas. Chata, sou muito chata.

As alegrias com hora marcada são-me especialmente custosas de gargalhar. Se os novos dias me entusiamam, os regozijos do zero desmotivam-me. Este ano cansei-me dos é costume fazer-se e desisti da descontagem, das engasgações com a saúde, felicidade, amor, dinheiro, e dos estilhaços velhos. Desacelerei-me dos ritmos que não me pertencem. E na primeira hora decidi doze mudanças que preciso reviravoltar neste ano que começa.

Ano novo, hábitos novos. Dias novos, vontades novas.

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