segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

uma

Apercebo-me que tenho poupado nas palavras e nas imagens delas aqui pela caixa. Um despropósito, ralho-me, este desintencional preterir para secundário quem tanto divide connosco casa e dias. Corrijo-me a partir daqui e prometo-me exibi-las cá dentro nos mesmos papéis principais que ocupam na nossa história cá de fora.

Se calhar, mesmo assim, a grande é capaz de se achar mais vezes nas narrativas que a pequena, não por desmerecimento da segunda mas por não gostar de se exteriorizar. A cadela quase todas as manhãs se encaminha connosco para a escolinha amarela e quase todas as tardes se velocida pelas relvas com ele nos retornos a casa. Perguntam certas mães se a escola agora tem um cão quando a presenciam em pacientes atrelamentos ao corrimão da entrada enquanto abotoo a bata e confirmo sopa, segundo prato e fruta. E depois há os parques e os passeios e os jardins e a beira-rio em que ela involuntariamente se protagoniza. Oh mãe, olha o cão daquele menino! Posso fazer uma festinha? De que raça é? Que lindo! Morde? Eu também tenho um cão desses. Cão, chamam-lhe sempre cão. Enfado-me, enfadamo-nos, às vezes, com tanta paragem para diálogos, e apetece-me azedar as respostas com as desimportâncias da raça e das bonitezas a quem me expõe vontades de filhotes pedigrados e elevar os interiores Ela é muito, muito, muito boazinha, e isso é o melhor num cão, sobretudo com miúdos pequenos em casa. Mas já contabilizo pelo menos duas amigas a crescerem (tempo, a amizade precisa quase sempre de tempo...) às contas de palavreamentos sobre cios e trelas e veterinários e rações. E o miúdo tem-se adoçado mais, com ela, e tem-se separado de puxões de rabo e de orelhas, dedos nos olhos e arrancares de pêlos. Escova-a, farta-lhe as tijelas de água e comida, resta-lhe os últimos bocadinhos de arroz e de carne, atira-lhe a bola, encontra-lhe troncos e pinhas, faz-lhe festas, dá-lhe beijinhos e chama-lhe minha querida. Minha querida. É tão bonito, quando lhe diz minha querida.

Avança sem irmãos (ainda, falhou-me ali o ainda antes do sem) mas com cadela. Cadela-amiga. Cadela-quase irmã. Não o imagino a crescer sem ela. Não nos imagino sem ela.

3 comentários:

Paula Sofia Luz disse...

Gostei do "ainda". E desta cumplicidade que salta das palavra com que a descreves tão bem. bj

Paula Sofia Luz disse...

Gostei do "ainda". E desta cumplicidade que salta das palavra com que a descreves tão bem. bj

Anónimo disse...

Eu também não o imagino crescer sem ela. Irmã e anjo protetor. Bjs!