quinta-feira, 20 de novembro de 2008

alegre casinha

Vendo as coisas com clareza eu até acho que nem tenho assim tantas razões para os lamentos. Um quadrado ao ar lá atrás, uma porta que abre direitinha para a calçada e não para as escadas, tectos baixos, paredes grossas, um armário quase-quarto-de-vestir debaixo das escadas, três casas por cima nocturnadas por vizinhos-fantasmas e mais-ou-menos tudo o que preciso. Uma casa muito engraçadinha e simpática, disse-me uma amiga há uns dias, onde nos sentimos bem. Guardei-lhe o elogio um bocadinho incrédula, que cá a mim aparenta-se-me sempre desarranjada e empoeirada e invadida pelos cheiros e pêlos da cadela, muito caseira e pouco quintalada, e expliquei-lhe que o problema é mesmo o inha. Engraçadinha, simpaticazinha, pequenininha. Muito pequenininha. Nós os dois mais os dois miúdos mais a cadela somamos muito mais do que as assoalhadas. E deixo de fora as três tartarugas (embora até essas se tentem caseirar assim que apanham a porta aberta) e a falta de sol, que isso daqui a três meses está solucionado. É mesmo o inha. Tão pequenininha. Sentado no sofá consigo mexer a sopa no fogão, humoriza o meu marido as reduções, e não, não é bem verdade, o sarcasmo, mas também não é bem mentira. E o miúdo espanta-se com as casas gigantescas dos amigos e com a sala desproporcionada da prima que só viu uma vez, mas eu argumento-nos com o aqui juntinhos e amiguinhos e ele cantarola a minha alegre casinha a contar vinda do céu trafulhada nas rimas e nas melodias e resume que a nossa é a mais bonita do mundo e não quero mudar para mais nenhuma.
De qualquer maneira as contas agora ainda me dão mais dores de cabeça. Alcofa, cama de grades, espreguiçadeira, carrinho, banheira, muda-fraldas... Adiciono-os e não lhes consigo encontrar metros quadrados. Faço tentativas, arquitecto arrumações. Encaixoto desnecessidades debaixo da cama, envieso prateleiras, subdivido a sala já dividida, planeio ocupar o quintal do vizinho/a(?) de cima que nunca vi. Mal-humoro-me Eu precisava mesmo era de mais duas divisões. Mas depois caminho com a cadela pelas ruas e cruzo-me com pernoitas em bancos de jardim e degraus de prédios e caixotes no passeio e remorso-me pelos queixumes. Canto As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta quanto eu sem trafulhar nas rimas e nas melodias à barriga e prometo-lhe muito colo e muitos mimos. Que, bem vistas as coisas, acho que é praticamente tudo o que precisa...

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