segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

pedagogias ao contrário

Quase todos os dias chegavam os recados na caderneta a acusar as distracções e as conversas imparáveis acompanhados da mochila sobrecarregada pelos trabalhos que deviam ter sido rematados na sala. O professor vazou as estratégias e as ameaças frequentes nestas desatenções: mudá-lo de trás para a frente e da frente para o meio, acompanhá-lo da menina mais sossegadinha e tímida, desacompanhá-lo, reprimir-lhe o intervalo, antever-lhe um futuro como arrumador de carros. Eu esgotei os esclarecimentos e os argumentos Se não ouves o que o professor explica não aprendes e depois não consegues fazer os trabalhos., e Já viste, íamos à biblioteca e agora em vez disso tens que ficar aqui a acabar essas seis fichas que devias ter feito lá na escola. Nada lhe afrouxava as conversas. Quando estávamos todos a desistir da tarefa o professor virou os ralhos do avesso e avisou os vinte e três coleguinhas Quem falar com o Simão aqui na sala não vai ao intervalo.

Parece que o miúdo agora se elevou a um dos melhores alunos e em vez de queixas carrega para casa excelentes e muito bons nas fichas.

1 comentário:

ana disse...

Às vezes (quase sempre, até) é tão difícil encontrar formas que os façam estar atentos na sala de aula... Chega a ser desesperante.