segunda-feira, 23 de agosto de 2010

summertime 6


Vendo bem as coisas eu devia era ter ficado sossegada que os receios do miúdo até me facilitavam a vida. Não saía da toalha. Os baldes, pás, moinhos, forminhas e peneiras voltavam imaculados. Ele não transportava nem um grãozinho de areia para casa. Mas não. Andámos, o miúdo crescido e eu, em tentativas e insistências. Olha a areia, tão gira. Anda, anda fazer um buraco com a pá. Olha a areia a passar pela peneira. Vá, faz tu. Não, não chora, não faz mal nenhum, é só areia. Muito bem, o Joaquim já consegue fazer um buraco! Viva! Palminhas! Agora... agora acabaram-se-me os sossegos. O miúdo corre pelo areal. O miúdo recolhe lixo e paus e pedrinhas e conchinhas que tenta comer. O miúdo enterra os brinquedos que só não ficam perdidos graças à vigilância feroz do irmão. O miúdo destrói castelos, montes, estradas e buracos. O miúdo come quilos de areia que lhe granulam os cocós do dia seguinte. E volta para casa com o cabelo e a cara e as dobrinhas tão croquetados que nem esponjados vigorosamente se desencardem. Pela minha parte aprendi a lição. Agora não me vou pôr com Olha a água tão linda, não chora, não faz mal nenhum, anda só mais um bocadinho, vamos ter com o mano ali mais dentro, tão bom. Não, não. Vou ficar muito caladinha, que as areias já me dão trabalhos que cheguem, e esperar que o miúdo resolva os medos dele sózinho.

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