quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

bzzz, bzzz

Nunca concedi um segundo de hesitação a estas mentiras. Falo-lhe do Pai Natal como do vizinho da casa ao lado. Trato de lhe povoar a cabecinha com trenós carregados de prendas e renas sorridentes e duendes e fadas e gnomos e gigantes. E ele acredita, claro, que felizmente não tem quem lhe desminta as fantasias. Depois, por inevitabilidade, também aparecem os fantasmas e bruxas a voar em vassouras e monstros ferozes. E ele também acredita, claro, e às vezes tem medo. Mas como os bons ganham sempre no fim descansa e, até agora, não tem pesadelos.
Eu acreditei no Pai Natal até muito tarde. Quando ele se metamorfoseou em adulto conhecido a pôr as prendas no sapatinho lembro-me de ter ficado muito desconsolada. E quando atrás dele se foram evaporando sereias, princesas, fadas e dragões malvados ainda mais desconsolada fiquei. O pai, graças a um irmão mais velho cinco anos, não teve uma infância muito encantada. Muitas vezes temos-lhe notado uma certa desorientação nestes caminhos mágicos. Foi por isso que as moscas me surpreenderam tanto. Há uns dias, à hora do almoço, nos habituais não góto dito, não quéo comê, não tenho fome nenhuma, ito é uma pocaia, enquanto eu ía repetindo Olha que o Pai Natal está a ver e não te traz prenda nenhuma, que às custas de tanto ser repetido já não assusta, o pai aproveitou a mosca que inadvertidamente entrou pela janela para o ameaçar Olha que o Pai Natal tem moscas que andam por aqui a ver como os meninos se portam e depois lhe vão contar e patati e patatá e mais patati. Deu resultado! E estão em todo o lado: no quintal, na rua, no parque infantil, nas divisões de janela aberta... Já é ele que diz tá aqui uma môca do Pai Natal, e nota-se o esforço para se portar bem. E eu, que até nem simpatizo muito com os ditas, dou por mim a virar a cabeça à procura de uma...

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