golos
Não gosto nada, mas mesmo nada, de futebol. Não sei os nomes dos jogadores nem dos clubes nem dos treinadores; não sei quantos se esfalfam em cada metade do campo nem quanto tempo dura um jogo. Acho que nunca vi um quarto de jogo e não entendo uma palavra daqueles debates no antes e no depois. Quando há aquelas coisas muito, muito importantes assim tipo Euros e Mundiais (que não consigo ignorar graças à impossibilidade de não ver as bandeiras...) aproveito para passear-nos por praias desertas e ruas desertas e parques desertos e depois fugir para casa uns segundos antes da fúria dos carros e das buzinas. Isto tudo, claro, porque o puto ainda é pirralhinho e, graças a mim, não sabe nada de futebol, que daqui por uns anos não sei se me conseguirei livrar de bandeirolas na janela e fanzices em frente à televisão...
Ora não gostando eu nada de futebol parece que dei ao meu filho o nome de um futebolista. Não lhe dei nome de músico nem de matemático nem de santo, mas de futebolista. É que desde que ele nasceu não páram de me e lhe perguntar se é do Benfica e se gosta de futebol e se quando crescer vai ser como o tal Simão Sabrosa... E eu lá vou respondendo que ele é mais mãos e encestamentos nas nossas cabeças ou janelas ou galinhas e que até nem gosta nada de jogar à bola, com uns sorrisos amarelos e sem perceber porque insisto em explicar-me a estranhos. Entretanto e para me redimir das recusas e faltas de jeito concerteza congénitas para os pontapés, apresento-lhe um bisavô futebolista guarda-redes de primeira divisão que até saía no jornal e seduzo-o para jogos matinais no quintal.
E eu, que abomino futeboladas, agora até adoro jogar com o meu filho. E parece-me que ele também está a começar a gostar, a avaliar pelos decibéis das gargalhadas e dos gritos de golo...
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