quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

(to die or) not to die

Ai mãe, tenho medo eu morro. A carinha pequena, franzida, os olhos assustados, quase a tremer, os joelhos a dobrarem-se. Pico o dedo, Aiii, e suspendo-me, agulha no ar, linha pelo chão, bainhas esquecidas. Mas que parvoíce, filho, quase me sai pela boca, não perco esta mania de dizer coisas tolas quando os assuntos são mesmo sérios.
Ai mãe, tenho medo eu morro. Mas onde é que este miúdo agora foi buscar isto, eu só lhe pedi cautela com as agulhas como lhe peço com tesouras e facas afiadas, não o quero assustado, para o que havia de lhe dar. Os olhos escuros, escuros, à espera de uma resposta. Eu indecisa, a tentar sorrisos no meio de tristezas e vontades de chorar, digo-lhe que só morre quando for velhinho, digo-lhe o horrível ninguém sabe quando morre, digo-lhe que não tem anos para estas preocupações, tem é que brincar e traquinar e ser feliz? Como é que os pais mandam embora este papão?
Ai mãe, tenho medo eu morro. Não filho, não morres. Não tenhas medo que não morres.
Hoje menti ao meu filho.

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