quinta-feira, 22 de março de 2007

boys don't cry

Tenho feito por não lhe exagerar os meninismos. Põe a mesa, ajuda-me a limpar o pó, arruma pequenos objectos, levamos o lixo, cuidamos dos animais, vai-me buscar precisões à casa-de-banho ou ao quarto dele, fazemos bolos, varremos as folhas. Ainda não dá passou-bens. Motivo-lhe os beijinhos, os abraços, as ternuras, as compaixões Vês? Ainda é pequenino, tens que ser meiguinho... Mesmo sem os ter pedido tem tachinhos e colheres e uns dois bonecos com babetes e biberões e roupinha e cozinha e electrodomésticos (porque é que são sempre cor-de-rosa? Quem são os donos dos preconceitos, os fabricantes ou os pais?...). As famílias de camiões (papá-camião, mamã-camião, filho-camião) e as famílias de escavadoras e as famílias de jipes volta e meia tomam banho, jantam e são deitadas a dormir, tapadas com as mantinhas. Cá em casa há muitas tarefas divididas, consoante a quem sobra mais tempo ou vontade. Se nos dessemos ao trabalho dessas contabilidades não sei qual dos dois lhe terá mudado mais fraldas ou dado mais banhos em bebé. Agora, na rua, é sempre o pai a colar-lhe os cansaços, que os quase dezoito kilos incapacitam-me as costas e os passos.
Ontem, enquanto o pai lhe tentava calçar os sapatos, expulsou-o e exigiu-me. Quando lhe perguntei os porquês lugarizou-nos a todos sem dúvidas O pai tem que tabalhar com as coisas lá no atelier, a mãe faz o almoço e cuida de mim, eu binquo.
Qual é o cromossoma do machismo?

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