quinta-feira, 1 de março de 2007

quem sai aos seus


Depois foram chegando mais, cada vez mais. A tartaruga, que tem os mesmos anos que a gata, o cágado apanhado pequenino na ribeira, os peixes, a cadela, as galinhas, mais uma tartaruga... Às vezes penso que não me importava mesmo nada de morar numa quinta deserta de vizinhos, usar botas de borracha até ao joelho, criar ovelhas, plantar árvores e filhos, mas hoje não me apetece escrever sobre as minhas vontades campestres. O meu filho já nasceu para uma casa cheia de bichos. As minhas primeiras preocupações eram com pêlos e alergias e doenças e higienes. A pediatra do hospital que lhe deu alta, bem-disposta com estas dúvidas incomuns numa recém-mamã, entre sorrisos, vaticinou-lhe uma valente alergia de pele logo nos primeiros dias e depois uma vidinha saudável sem reacções a nada. Até agora cumpriu-se. Com uma semana encheu-se de borbulhinhas e mais borbulhinhas que só se foram com tempo e Cicalfate e, até hoje, não alergizou mais nada. Fui desistindo de me preocupar com os pêlos nas mãos e na boca, com as sujidades, com os germes e as lombrigas e as carraças. É como se diz, o que não mata (no caso dele nem sequer) engorda...

Acho que lhe faz bem, crescer assim, rodeado de animais. Perceber que são frágeis, que dependem dos donos e que por isso tem que os tratar bem. Ir ganhando, pouco a pouco, pequenas responsabilidades diárias não só com ele - pôr trigo às galinhas, ver se a gata tem água, ajudar a escovar a cadela. Sentir a retribuição afectiva por todos estes pequenos gestos.

Se calhar é por isso, por ter tantos em casa e por (já) ajudar a cuidar deles, que o miúdo gosta tanto de animais. Carrega com joaninhas e bichos de conta e formigas cá para dentro, enfia-os em garrafas de plástico, dá-lhes ervinhas, quase chora quando lhe peço para os devolver à liberdade, Voa voa joaninha que o teu pai tá em liboa. Reconhece insectos como alfaiates e libelinhas e abelhões. Já viu nascer um pinto (e no dia de anos dele, feliz coincidência!). Tem um saco cheio de conchas de caracóis que vão sendo à vez carga de camiões e terra para escavadoras. Apanha carochas na praia. Já viu a tartaruga fazer uma cova na terra e pôr lá ovos. Quer saber o nome de todos os peixes. Entra em todas as lojas de animais e pedincha mais cães e iguanas e hamsters. Vê com uma invulgar atenção aquelas séries de vida selvagem e insectos e baleias. Tenta agarrar-se a todos os cães e gatos da rua. Diz Oh mãe, eu gotava tanto de morar numa quinta no campo. E estar a cinco centímetros dos rugidos e da juba de um leão não o deixa minimamente assustado...

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