quinta-feira, 26 de julho de 2007

o que faltava

Não sei se já alguma vez o escrevi aqui. Não tenho tempo para reler, para desnecessariar repetições, para desencantar lacunas. Não tenho tempo. Por isso não sei se já o escrevi aqui. Lembro-me, isso sim, de escrever amiúde sobre os dias apressados, as correrias desenfreadas, as gritarias e as birras, as piadinhas, os pequenos crescimentos, os livros. Acho mesmo que ainda nunca escrevi aqui que o meu filho mo diz várias vezes ao dia. Enquanto o esponjo na banheira. Enquanto puxa o carrinho vazio até ao Minipreço em corridas para ganhar e ser o mais rápido e forte do mundo inteiro. Enquanto sopro de impaciência por ter que lhe enfiar garfadas de bacalhau à brás nas ínfimas pausas da tagarelice. Enquanto lança o dado do jogo da glória. Enquanto lhe atiro água na praia. Enquanto o empurro no baloiço ou o faço saltar no sobe-e-desce. Quando chego ao ponto final da última página da estória da noite. Enquanto tento ler o jornal. Enquanto o pai me tenta dizer alguma coisa importante no carro. Depois de lhe ralhar por ter pisado o rabo da gata ou dado um pontapé à Doris. Depois de lhe ter gritado irada por estar quase há duas horas em brincadeiras com dedos e garfo e copo e comida enquanto o empadão arrefece e resseca no prato. Depois de lhe dar uma palmada. Acho mesmo que nunca escrevi, aqui, que o meu filho me diz várias vezes ao dia Gótanti, mamã, a apressada versão do Gosto tanto de ti repetida todos os dias nos acordares e adormeceres. O meu filho, que nunca amua e que pede desculpa sem ser preciso indicar-lho, diz-me que gosta muito de mim pelo menos duas mãos cheias de dedos por dia. E era uma grande pena eu ter um blogue de quando ele era menino e não escrever aqui uma das coisas mais importantes dos nossos dias.

Também gómunti, meu amor.

2 comentários:

Paula Sofia Luz disse...

às vezes passo por aqui e gosto de ler o que escreves. Tenho pena de só ter descoberto a blogosfera há meses, sem poder registar neste modo as graças do meu príncipe quando era assim, como o teu, mais pequeno.
Bem sei - também - que não há nada melhor na vida que ter um menino de ouro, como os nossos.

ângela disse...

É que eles crescem, não é? Mais depressa do que imaginamos nestas idades... E nós esquecemo-nos de tanta coisa...
Muito obrigada pelas simpáticas palavras. Hei-de ir conhecer o teu mundo assim que tenha tempo...