sexta-feira, 3 de julho de 2009

maus adormeceres

Ai, ai, ai, ai, ai... ralhei eu aos quase seis quilos de gente. Mau maria, ecoaram logo os outros vinte e poucos quilos de gente, lápis castanho suspenso do pelar a cabra cabrês, salto-te em cima e faço-te em três, nas costas do cartão dos corn flakes, uns decibéis de satisfação impossíveis de disfarçar ali nos ás do mau maria, que eu cá acho que não deve ser fácil ser o irmão mais velho de um bebé que sorri tanto ao mundo e a quem o mundo sorri tanto de volta. Não é comigo, pois não?, desenganou-se a medo, habituado a ganhar sempre nos ralhos. Não, não é contigo. Ai, ai, ai, ai, ai, retornei para a carinha chorosa, agora sem reticências. Que não pode ser, que só tem três meses, que tem que dormir, que não pode estar acordado as mesmas horas todas que os crescidos. Pois é, tens que dormir, irmão, corroborou o grande, lápis cor-de-rosa a orelhar o coelhinho, eu fui colher couves à horta, o mesmo regozijo nas sílabas, voltei a casa para fazer um caldo, irmão. Ele diz sempre assim, irmão. Quase nunca mano. Mãe, o irmão está a chorar. Olha, irmão, isto é um dinossauro. Irmão, ri para mim. Acho que o miúdo vai crescer convencido que se chama Irmão. Um bebé tão bonito, quase não chora e depois são estas indignações todas gritadas em fúria quando o tentamos adormecer. Que os três meses trouxeram-nos, misturados com as gargalhadas, os beicinhos, as conversas, as atenções a tudo e as noites e as sestas compridas, os adormeceres destemperados pelas desvontades de dormir. É só aconchegá-lo com a fraldinha Dorme, meu menino, a estrela d'alva... e começa o desassossego de braços e pernas e voz, todos juntos a birrarem teimosias e cansaços. Se queres estar acordado, estás, mas ficas aí na espreguiçadeira e caladinho que eu tenho que fazer o jantar, terminei, voz agastada pelos muitos minutos seguidos de colos gritados, que eu não fui à horta colher couves mas tenho que fazer um caldinho. Pois é, irmão, a mãe tem que fazer a sopa, corroboraram os seis anos de gente, lápis preto a arredondar dois olhos mais um sorriso e a riscar uma, duas, três, quatro patinhas da formiga rabiga, salto-te em cima, furo-te a barriga.

O miúdo fez um beicinho anunciador de mais gritaria. Ai, ai, ai, ai, ai, suspirei-me eu, cá vamos nós outra vez, que se isto ao colo já é difícil, na espreguiçadeira é que não vamos mesmo lá. Depois sorriu-se, timidamente, e ficou-se assim, quietinho, a ouvir a cabra cabressa, cabraz, cabracha, cabrenta, caprina, cabriso, teve um ataque de riso, do irmão e os quadrados de chuchu e abóbora e cenoura a mergulharem no tacho. Passado um bocadinho estava a dormir. Ainda a sorrir.

O meu filho pequenino é delicioso.