domingo, 18 de novembro de 2007

tempestades

Se eu fosse dada a essas contas, tenho a certeza que somava pequenas imperfeições diárias em quantidades suficientes para perder os sonos. Acordares atrasados. Gritos matinais. Cereais trocados por iogurtes. Fruta trocada por iogurtes. Cabelos deslavados. Preguiças para descascar as batatas e as cenouras para a sopa. Dobras em vez de bainhas. Rasgões em vez de joelheiras. Almoço de sobrados do jantar do dia anterior. Palmadas. Roupa despassada a ferro. Sopa subornada com chocolatinhos azuis. Retardos a coser os nomes na bata e no chapéu e a forrar o dossier da escola. Nódoas. Unhas por cortar. Cabelos por cortar. Ralhos. Bocadinhos no meio dos dedos dos pés mal esponjados. Adormeceres atrasados. Se eu fosse dada a essas contas, tenho a certeza que somava pequenas imperfeições diárias em quantidades suficientes para me achar uma mãe muito imperfeita.

Mas não as contabilizo. E vou-me imperfeitando quase todos os dias, consolando-me na esperança de que o meu filho nunca tenha vergonha de se imperfeitar à minha frente.

As que contabilizo são as vezes em que ralho e palmo irritada, zangada, furiosa, descontrolada. Aí sim, tenho a certeza que sou uma mãe muito imperfeita. E perco os sonos.

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