sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
a casa dos livros com árvores

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ângela
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
a casa dos livros
Não a reparei da primeira vez, em que passeámos esperas pelas cinco e pelo Carlos que nos ía exibir o rés-do-chão com quintal e porta para a rua. Não concorreu, portanto, para a eleição. Acho que foi na seguinte, em que autografámos os papéis, primeiro outorgante, segundo outorgante, fiador (palavras com que também não simpatizo e que nunca se me afiguram nas prosas), o miúdo aos saltos no quintal ensolarado, os cães do vizinho em zangas ladradas ao inesperado desassossego, que a vimos. Grande, ataviada com muitas janelas, com relvas e arbustos à volta e com troncos e folhas a ultrapassarem o telhado, o portão de ferro solene, a calçada entre os canteiros. Uma biblioteca! Temos uma biblioteca aqui na rua debaixo!, alegrei o miúdo, impaciente com a mão que lhe impedia as correrias no passeio estreito. Só meia dúzia de passos de casa até aqui! A antiga casa de um marquês agora casa de livros. Chão de madeira, salas e mais salas, escadas suaves, um terraço grande, um rectângulo lá atrás com quatro laranjeiras. Sonho com uma casa assim, menos espaçada nas áreas, mas assim, com janelas grandes cheias de sol, com o castanho antigo da madeira no chão, com uma terra com frutos a crescer.
A nossa biblioteca recebe-nos nas tardes de chuva e nas de sol. Empresta-nos cinco livros a cada um para reler durante quinze dias, mais filmes e músicas e jogos. E quando não tem os da kalandraka e os da oqo pesquisamos aqui e o Pedro pede às vizinhas. Tem duas salinhas coloridas para os meninos encaixarem e desencaixarem e desarrumarem legos e dominós e outros pedaços pela alcatifa de corda onde não é preciso estar sempre a dizer Chiu, aqui tens que falar baixinho. Conhecem-nos e conhecemos quase todos os que lá trabalham. O meu miúdo teve cartão da biblioteca antes de ter identidade. O nosso utente mais jovem, chama-lhe sempre a Cláudia, que agora tem um bebé na barriga, já viste, mamã? E oferecem-lhe rebuçados, pedem-lhe ajuda para desmagnetizar os livros e elevam-no a um metro do chão para conseguir dar duas voltas na fechadura com a chave antiquada mais comprida que a mão dele.
Cresce no meio dos livros. E eu gosto tanto que uma das casas da infância do meu filho seja aqui a biblioteca da rua debaixo...
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
domingo, 24 de fevereiro de 2008
sábado, 23 de fevereiro de 2008

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ângela
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
pedestres
São só três paragens. Três paragens certinhas, uma aqui na rua debaixo, a outra em frente ao jardim, a última lá mesmo em frente ao arco. Era só descer a travessa onde há sempre carros desarrumados em cima do passeio estreitinho e esperar por um dos muitos setecentos e tal em frente à farmácia onde me desgasto em aerius e soro e sprays de água do mar para o nariz que nunca fica enxuto e onde trabalha a senhora simpática que já me assistiu a otites e a engessamentos e a constipações e que fala sempre do neto. O meu neto também era assim, foi acalmando com a idade, consola-me ela os desesperos com os saltos da balança para o banco e com as incursões na parte de dentro do balcão, Tu tens aí brinquedos escondidos atrás? E tem sempre sugus nos bolsos, a senhora simpática, e pergunta ao meu miúdo Tu queres sugus, Simão?, e agora oiço quase todos os dias Vamos à farmácia?, quando estou a dar as duas voltas à chave na fechadura. Esperta, a farmacêutica que teve um neto mexido, que eu também devia andar sempre com sugus nos bolsos para remunerar os com licença e os se faz favor e os escassos sossegos, que concerteza acertava mais do que com as reprimendas e com os Está quieto! que dão sempre o resultado contrário.
E até há sempre lugares sentados, nos setecentos e tal, que àquela hora só carregam mulheres encasacadas e homens de boina. Carracundos, a resmungar com o tempo e com as travagens bruscas e com os preços e com os atrasos. Para onde irão às nove da manhã, pergunto-me sempre, tão encasacados e emboinados e azedos. E apressados. Por isso podíamos ir, num dos setecentos e tal, que o miúdo concerteza até se alojava num banco junto à janela, e ele simpatiza com tudo o que roda desde que possa ir a embaciar vidros e a comentar exteriores. Depois param em frente ao jardim, o nosso jardim, onde muitas tardes fazemos a cadela correr atrás de um osso descorado de tanto atirar e de tanto morder, os setecentos e tal, e a seguir mesmo em frente à escolinha amarela. Por isso podíamos ir de autocarro, que encurtávamos as distâncias e os tempos e não chegávamos quando os meninos já estão todos de bata aos quadradinhos sentados a desenhar ou a cortar. Podíamos ir de autocarro, que são só três paragens.
Mas aí não levávamos a Doris, a nossa Dorizinha, a apressar-se à nossa frente e a mastigar desavergonhadamente as migalhas arremessadas aos pombos, que imagino as caras dos homens emboinados e das mulheres encasacadas, carrancudos e azedos e apressados, se eu me tentasse transportar num dos setecentos e tal com um miúdo cantarolante e uma cadela sorridente. E aí não dizíamos bom-dia à nossa árvore. E aí não víamos se os foguetes-de-natal já estão a perder as hastes vermelhas, os tempos que eu levei a clarear porque é que aquelas manchas verdes e deslavadas e espinhosas que abundam pelos canteiros dos jardins se chamam foguetes-de-natal, que aquilo no resto dos meses não recorda nem natal nem foguetes. E aí não espionávamos os botões grandes, rosados, que de dia para dia, se agigantam de umas folhas verdes claras e concerteza florirão cheiros e cores alguma destas manhãs. E aí não cheirávamos a árvore de que não sei o nome (aborrece-me tanto, não saber o nome das árvores) e que agora se encheu de uns casulinhos verdes peludos e de umas flores brancas aromáticas, que paramos sempre lá debaixo, de olhos fechados a inspirar primaveras próximas e a inventar contos de abelhões e de moscardos. Era uma vez um abelhão comilão que vivia naquela flor, vês? Aquela, a mais alta. Um dia o abelhão comilão foi comer uma rosa e picou-se. Ai! disse ele. E nunca mais comeu rosas. E aí o miúdo não chutava relva fora as laranjas que o vento nocturno destronca e deixa perdidas e solitárias pelo chão. E aí não espreitávamos os formigueiros, as moscas, as abelhas. E aí não chegava à escola com o caracol joãozinho no bolso direito da bata e um meteorito mágico no esquerdo. E aí não descia três vezes, muito depressa, pelo escorrega grande difícil de subir, São só três, mamã, num instantinho, para não ser sempre o último a chegar, do parque que àquela hora está sempre desocupado de meninos e de risos.
Podíamos ir de autocarro, que são só três paragens. E aí não íamos e voltávamos a pé. Mas acho que os nossos dias eram um bocadinho mais tristes por causa disso...
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
meia prenda
Com quatro pontos na bochechinha e oito na pata, às sete já tinha os olhos abertos, às oito já comia e às nove já saltava para cima da cadeira. A gatinha mais doce do mundo é também a mais corajosa.
Ganhei metade. A outra só sei se a ganho depois da Luísa biopsar os círculos cor-de-rosa que ficaram a flutuar o formol. Nas meias esperas googlo maldades e encontro isto. Serão tão mágicas como as explicam?
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
trinta e sete

E agora estou aqui, deprimida com este céu choroso, com uma fotografia dela à frente e a culpar-me por não estar lá, encostada à porta à espera de a ver abrir os olhos. Sonhará, a minha pequenina, enquanto a Luísa a corta e lhe retira gramas malignas e a cose? Terá medo? E a única prenda de anos que peço é uma gata acordada e curada...
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
mãe d'água
Não sei porque é que não tive umas. Quase todos os miúdos as tinham. Não me lembro das justificações maternas. Lembro-me, isso sim, de invejar os miúdos que navegavam poças emborrachados de vermelho ou de verde enquanto eu as marginava, resguardada de pingos e de alegrias. De lhes invejar os risos, os pés molhados e as liberdades.
Uma vez afundei-me. Às escondidas. Os sapatos azuis escuros com atacadores, as meias de lã cremes, eram quase sempre cremes, os meus pés na água castanha polvilhada de folhas e pauzinhos. Para a frente e para trás, para a frente e para trás, pés-baleias, pés-sereias, pés-caravelas a inventarem ondas num mar manso. Caí, interrompi-lhe depois a algaraviada colérica de amigdalites e febres e constipações. Caí, foi sem querer, menti-lhe. Acho que foi a primeira vez que lhe menti. Devia ter uns sete ou oito anos e percebi que podia mentir-lhe. Esqueci as palmadas mas não esqueci os sapatos-barcos e os pés-peixes. E habituei-me a mentir-lhe.
O meu miúdo voa a pés juntos para todas as poças com que nos cruzamos daqui até à escolinha amarela. Chega lá com salpicos nas calças, na capa azul e até na cara. Vira a sombrinha ao contrário para a encher de gotas-preciosas. Eu desalegro-me com as águas de fevereiro mas silencio as preocupações com as mazelas e alegro-me com os contentamentos dele. Umas botas d'água chegam para o fazer feliz e (espero) para não precisar de me mentir insignificâncias.
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the rain in spain stays mainly in the plain
Eu antes até me agradava com a chuva. Com o compasso nos vidros. Com o céu lavado. Com o cheiro dos molhados. Gostava de ficar e também gostava de sair. Agora destempera-me. Custa-me, ainda mais que nas manhãs secas, despreguiçar-me dos sonos. Custa-me despreguiçar o miúdo dos quentes. Custa-me chuveirar-me em uníssono com as gotas de fora. Custa-me preenchê-lo com botas e capa e sombrinha e capuz. Custa-me o cinzento. Custa-me exteriorizar a cadela e trazê-la molhada e precisada de turcos para não me inundar tapetes e caminha e chão. Custa-me passar o dia de lâmpadas acesas. Custa-me irritar-me com nadas. Custa-me afligir-me com constipações e ranhos e tosses. Custa-me sair mas também me custa ficar. Custa-me sentir-me assim descolorida...
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sábado, 2 de fevereiro de 2008
gosto de te ver (outra vez), leãozinho
Ainda me pesaram um bocadinho as consciências, vesti-lo da mesma coisa dois carnavais seguidos. Mas todas as aparências que lhe tencionei - médico, bombeiro, mecânico, fantasma, pescador... - foram recusadas. Dragão, eu quero é vestir-me de dragão. Tentei explicar-lhe as dificuldades da escolha, bicho que anda, voa e ainda cospe fogo. Patas, asas, rabo, língua - E bífida, mamã, não te podes esquecer que é bífida! Não o encontrar à venda - e não engraçar com os acetinados brilhantes e fininhos pouco amoldados a bicho tão feroz e a frios de Fevereiro - e falharem-me os tempos, as imaginações e os hábitos para conceber e coser tal criatura. Pronto, então levo o fatinho de leão, que eu gosto muito dele. Só não quero a cara pintada.
Desde ontem de manhã que se passeia enjubado, a arrastar o filhote e a cantar bocadinhos do Caetano. Tem o quarto serpentinado. E fizémos um bolo de chocolate.
Está feliz, parece-me. E eu de consciências leves.
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
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